Mandela, guerras e José Eduardo dos Santos marcam ano em África

Balanço de 2013 sobre África

A boa notícia O “pronto-socorro” francês


Por duas vezes, a França foi o “pronto-socorro” de guerras e conflitos dilacerantes em países africanos. Primeiro, no início do ano, no Mali, para travar milícias islâmicas que tinham tomado conta de metade do território. Depois, em Dezembro, numa República Centro-Africana descrita pelas Nações Unidas como “à beira do genocídio”, onde, no início do mês, em dois dias, foram mortas mais de mil pessoas. Resguardadas em decisões unânimes do Conselho de Segurança, as acções militares foram uma boa notícia para populações expostas a acções de puro terror. O primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, disse que Paris “não será o polícia de África”, o que não apaga o facto de as operações fora de portas serem uma afirmação de poder que deu à França um protagonismo acentuado pela ausência de outras potências.

A má notícia O adeus de Nelson Mandela


O inevitável chegou. Nelson Mandela morreu a 5 de Dezembro, aos 95 anos. A África do Sul tem de se habituar a viver sem o escudo protector que lhe garantiu uma suave transição do apartheid. Mandela foi celebrado pelo país – e pelo mundo – a que mostrou o caminho da coexistência racial pacífica e da democracia. Para os sul-africanos é agora tempo de provar que a “nação arco- íris” é mais do que um mito. As ameaças vêm das desigualdades profundas. Pobreza, desemprego e dificuldade de acesso à educação continuam a afectar a esmagadora maioria da população negra. Principalmente para os jovens, a evocação da luta contra o apartheid não basta. As vaias ao Presidente, Jacob Zuma, nas cerimónias fúnebres, são sintoma de desencanto. Há muito a fazer para tornar duradoura a herança de Madiba.

A figura José Eduardo dos Santos

A contestação ao Presidente de Angola subiu de tom. Os protestos que nos últimos dois anos foram protagonizados por jovens contestatários entraram no campo institucional. No fim de Novembro, a oposição chegou a abandonar em bloco os trabalhos parlamentares, queixando-se de “perseguição política” e reclamando um debate sobre a actuação das forças de segurança e a morte de activistas.

A causa próxima foi a morte de um dirigente do partido CASA-CE (Convergência Ampla de Salvação de Angola), detido quando colava cartazes anti-Governo e alvejado pela guarda presidencial ao tentar fugir. O caso somou-se a detenções de activistas e desaparecimentos. Uma manifestação “contra a repressão”, convocada pela UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), e que o Governo proibira, foi interrompida com violência.

O relacionamento com Portugal teve sobressaltos. As investigações da Justiça ao vice-Presidente, Manuel Vicente, e a outros dirigentes – por denúncias de crimes como fraude fiscal, falsificações ou branqueamento de capitais – causaram mal-estar no círculo de poder. Em Outubro José Eduardo dos Santos anunciou que não havia condições para uma anunciada parceria estratégica entre os dois países. Pelo meio, o Jornal de Angola escreveu editoriais inflamados contra as “elites portuguesas corruptas” e o ministro dos Negócios Estrangeiros de Lisboa, Rui Machete, colocou-se no centro da polémica quando pediu desculpas diplomáticas a Luanda
Em 2013 surgiram rumores sobre a saúde de Eduardo dos Santos, que, numa entrevista, reconheceu estar há “demasiado” tempo no poder, explicando a longevidade – é Presidente desde 1979 – com “razões conjunturais” como a guerra, que acabou em 2002.


A seguir em 2014
Se não houver contratempos, a 16 de Março a Guiné-Bissau tem eleições legislativas e presidenciais para repor a legitimidade interrompida por um golpe de Estado que, em Abril de 2012, afastou o governo eleito e o Presidente interino.

A África do Sul terá presidenciais e legislativas (em data a anunciar), as primeiras desde a morte de Nelson Mandela. Jacob Zuma concorre a novo mandato de Presidente. A 26 de Abril, passam 20 anos sobre as primeiras eleições multirraciais.

Para Julho estão previstas, em simultâneo, legislativas, autárquicas e regionais em São Tomé e Príncipe. Será o vir de página da transição iniciada no fim de 2012, quando o Parlamento retirou a confiança ao governo de maioria relativa da Acção Democrática Independente (ADI) e aprovou uma coligação de outros partidos.

A entrada da Guiné-Equatorial na Comunidade de Países de Língua Portuguesa volta a ser discutida em Setembro, em Timor-Leste. As reservas à entrada do estado que é governado há décadas com mão-de-ferro por Teodoro Obiang têm vindo a diminuir.

Moçambique tem legislativas e presidenciais a 15 de Outubro. Até lá há muito para definir. Nos próximos meses se perceberá se a instabilidade político-militar é ultrapassada ou a guerra se instala. O partido governamental Frelimo escolherá em breve o candidato à sucessão de Armando Guebuza, o Presidente cessante.

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