Avós e católicos, os Whyte fizeram um vídeo que se tornou viral

“Sei que o Deus compassivo em que acreditamos diria que fizemos a coisa certa e cristã”, diz o casal irlandês num vídeo a favor do "sim" no referendo ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Avós e católicos, os Whyte fizeram um vídeo que se tornou viral

Não é o vídeo que seria de esperar numa campanha a favor do “sim” ao casamento gay. Um casal de avozinhos heterossexuais e católicos, sentados no sofá de sua casa — uma relíquia de outros tempos, tal como a gravata do homem —, a ler as suas falas alternadamente. O que importa é a espontaneidade, mais do que a competência ou a sofisticação: afinal, é um vídeo publicado no YouTube.

“Sei que o Deus compassivo em que acreditamos diria que fizemos a coisa certa e cristã em votar ‘sim’” no referendo ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, diz Brighid Whyte, 77, no vídeo de quase dois minutos. “No futuro pode acontecer que o vosso filho ou filha, netos ou bisnetos, vos digam que são homossexuais”, diz Paddy Whyte, 79. “Quando eles vos perguntarem como votaram neste referendo, se é que se deram ao trabalho de o fazer, o que é que lhes vão dizer?”

O vídeo, publicado em Março como parte da campanha a favor do “sim”, tornou-se viral, tendo sido visto mais de um milhão de vezes. Ainda antes de a Irlanda ir às urnas na sexta-feira, a popularidade do vídeo foi um indício inesperado de um apoio robusto à legalização do casamento gay naquele país católico.

Os Whyte, que vivem em Dundalk, uma cidadezinha rural junto à fronteira com a Irlanda do Norte, dizem ter ficado surpreendidos com o aplauso que receberam depois de fazerem o vídeo, incluindo de pessoas de meia-idade e idosos. O New York Times, que publicou uma história sobre o casal, nota que, em certo sentido, o vídeo promove um valor tradicional da Igreja Católica: a importância da família. “Há 20 anos, provavelmente teria votado ‘não’”, diz Paddy Whyte no vídeo. “Mas agora que conheço pessoas homossexuais e vejo o amor e a alegria que podem trazer à vida, vou votar ‘sim’.”

Há 13 anos, o filho mais novo do casal, Padraic Whyte, revelou aos pais que era gay — “uma das coisas mais difíceis que já tive de fazer”, disse ao New York Times. No dia seguinte, os pais foram à igreja dar graças. “Eles encararam tudo como uma bênção”, resumiu o filho, 36 anos, professor de inglês numa universidade de Dublin e activista da campanha pelo sim no referendo.

Os Whyte acreditam que o vídeo inspirou outras pessoas a falarem mais abertamente sobre os seus próprios familiares homossexuais. O casal gravou um segundo vídeo, que foi publicado uma semana antes do referendo.

O casal diz que não fez o vídeo apesar da sua religião, mas por causa dela. “Somos católicos, o que quer dizer que somos instruídos a acreditar na compaixão, no amor, na justiça e na inclusão”, disse Paddy Whyte ao diário norte-americano. “Só estamos a votar na igualdade.”

A mulher, Brighid, acrescentou que a homossexualidade do filho não foi a única razão por que fez o vídeo. “Tenho 11 netos maravilhosos. Essa é outra das razões: quero deixar um mundo melhor para eles.”

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