Aviya é o rosto do extremismo judaico em Jerusalém

São jovens e querem o inicio de uma nova era religiosa em que Israel seria governada pela lei da Torah. Os serviços secretos comprometeram-se a desmantelar o que está a ser descrito como uma rede obscura de fanáticos.

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Aviya Morris pertence a um grupo que se auto-intitula Estudantes para o Monte do Templo David Vaaknin/The Washington Post

Aviya Morris é a nova face do extremismo judaico, uma jovem mãe de voz suave que quer ver os muçulmanos derrotados e a ascensão de um novo Israel. Esse é o seu sonho. Ela própria admite que isso “pode levar a uma guerra mundial”. Mas isso seria culpa dos árabes e da comunidade internacional. Morris tem 20 anos.

Há duas semanas, Morris, o seu marido e bebé do casal, chamado Liberty Zion, deixaram o colonato judaico de Shiloh, na Cisjordânia, para visitarem o complexo elevado no coração da Velha Jerusalém a que os judeus chamam Monte do Templo e os muçulmanos Nobre Santuário.

Este local, cercado por muralhas, é sagrado para ambas as religiões – e o ponto de partida nos dias que correm para confrontos esporádicos. Os judeus acreditam que foi aqui que o mundo começou e que Abraão teve a sua mão travada por um anjo antes de desferir um golpe fatal contra Isaac. Foi aqui que os judeus construíram o Primeiro e o Segundo templos.

Também é o local onde se situa a Mesquita de al-Aqsa e a Cúpula do Rochedo e que marca o ponto da ascensão do profeta Maomé na sua viagem nocturna para o céu.

E foi aqui que a jovem Aviya Morris gritou “Maomé é um porco”, insultando de forma definitiva o profeta muçulmano. Ela diz que foi provocada, que durante a sua visita ao Monte do Templo foi assediada por muçulmanas de rosto coberto que lhe gritaram “Allahu Akbar" (Deus é Grande) e “morte aos judeus”.

“Senti que seria embaraçoso não dizer nada em resposta, o meu silêncio recairia não só em nós mas também sobre Israel”, explicou Morris. “Nós temos o direito de estar aqui”. Para a israelita, foram as mulheres palestinianas as agressoras.

“Este é o único local do mundo onde os judeus não podem rezar. Os árabes podem trazer bandeiras do Estado Islâmico e do Hamas, e nós não podemos rezar nem mostrar bandeiras israelitas, e o mundo não faz nada.”

Ataques mortais
Depois de insultar o profeta, Aviya Morris foi brevemente detida e interrogada pelas autoridades israelitas que a aconselharam a manter-se longe da Cidade Velha durante pelo menos uma semana – para a sua própria segurança. Palestinianos e alguns israelitas defenderam que ela devia ter sido acusada de incitamento à violência. Mas não foram apresentadas queixas.

Por estes dias, israelitas e palestinianos estão a tentar lidar com a violência que incluiu confrontos entre colonos judeus e forças do governo num colonato da Cisjordânia; um ataque com uma faca numa marcha do orgulho gay em Jerusalém levado a cabo por um judeu extremista que deixou uma rapariga de 16 anos morta; e um ataque incendiário de judeus extremistas numa aldeia palestiniana que provou a morte imediata de um bebé e a morte do pai uma semana depois, deixando gravemente feridos a mãe e o outro filho do casal.

Os políticos israelitas, furiosos e embaraçados pela emergência do extremismo judaico, apelaram à pena de morte contra cidadãos israelitas que sejam condenados por actos terroristas e ao recurso a medidas securitárias mais duras, incluindo a prisão administrativa (sem julgamento e prolongável indefinidamente), que normalmente só é usada contra os palestinianos

Morris diz que se passou da cabeça quando insultou Maomé – mas ela passou-se acompanhada por uma câmara da televisão israelita que estava a acompanhar um grupo de mães e bebés que visitavam o local sagrado.

As vigilantes palestinianas são um novo fenómeno no complexo de Al-Aqsa. Elas seguem os judeus e as suas escoltas policiais para impedirem os visitantes judeus de rezarem ou cantarem (sendo que aqui as orações judaicas são proibidas pelas autoridades israelitas, para proteger o status quo de 48 anos)

As guardas palestinianas dizem que a sua missão é proteger o local dos visitantes judeus, por temerem que estes queiram regressar em massa para rezar – e que queiram construir um Terceiro Templo nas ruínas da sua mesquita. Nos media palestinianos, os judeus que vão ao santuário raramente estão a “visitar” mas sim a “invadir” e a “ocupar” o local.

As mulheres palestinianas também tinham telefones para captar o insulto de Morris e rapidamente a sua imagem espalhou-se pelas redes sociais; alguns internautas apelaram à sua morte.

Conspiração extremista
Esta não foi a primeira acção provocatória de Morris. Antes ela cuspiu no deputado árabe israelita Ahmad Tibi durante um debate na universidade Bar-Ilan, nos arredores de Telavive, em 2012, e em 2013 foi detida pela polícia por suspeita de envolvimento em actos de vandalismo contra o Mosteiro da Cruz em Jerusalém, onde os atacantes deixaram pintada com tinta de spray a mensagem “Jesus – filho de uma meretriz”. Morris foi libertada sem ter sido acusada de nenhum crime.

Agora, acusados de inércia para com o extremismo religioso judaico, os serviços secretos israelitas comprometeram-se a desmantelar aquilo que a imprensa hebraica descreve com uma rede obscura e clandestina de jovens fanáticos que, segundo as autoridades, querem derrubar o Estado de Israel fomentando o conflito israelo-árabe.

Nos últimos dias já foram detidos administrativamente pelo menos nove jovens colonos judeus por suspeita de actividades extremistas contra palestinianos.

Os radicais sonham com o nascimento de um novo reino religioso em que Israel seria governada pela lei da Torah e o Terceiro templo seria reconstruído. A jovem Aviya Morris pertence a um grupo de activistas que se auto-intitulam Estudantes para o Monte do Templo, que realizou um protesto com bandeiras à entrada do complexo no domingo da semana passada.

Membros de vários movimentos do Monte do Templo, financiados por patrocinadores norte-americanos, dizem que todos querem igualdade de direito para rezar, enquanto outros se preparam para o dia em que o Terceiro Templo vai ser reconstruido, sem exigirem a destruição da mesquita. Esperam pela “novilha vermelha perfeita” para serem conduzidos para uma nova era.

Mas alguns activistas dizem que querem que esse dia seja já hoje.

Quando interrogada sobre se imagina um futuro em que judeus e muçulmanos possam partilhar o local sagrado Monte do Templo/Nobre Santuário, Morris responde que não. “Não há uma boa solução”, diz. “Não podemos partilhá-lo. Não há partição possível. Nunca resultaria. Não vale a pena sequer tentar.”

A jovem colona explica que a Torah contém “instruções exactas” para construir o Terceiro Templo. “Se dependesse de nós, reconstruíamos o Templo já. Esta é a nossa solução.”

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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