Nigéria disposta a negociar libertação de estudantes raptadas por islamistas

Aviões norte-americanos procuram adolescentes. Especialistas analisam "à lupa” vídeo do grupo Boko Haram.

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Acção a favor da libertação das estudantes raptadas, esta terça-feira, em Paris FRED DUFOUR/AFP

O Governo da Nigéria está pronto a negociar a libertação das mais de 200 adolescentes raptadas em Abril pelo grupo islamista Boko Haram. A decisão, que representa uma mudança de atitude, foi anunciada nesta terça-feira.

O ministro dos Assuntos Especiais, Tanimu Turaki, afirmou à BBC que se o líder do Boko Haram estiver a ser sincero na declaração em que manifestou disponibilidade para trocar as raparigas por islamistas presos, deve enviar pessoas da sua confiança ao encontro do comité permanente de reconciliação do país, criado pelo Presidente Goodluck Jonathan e por si presidido.

“O diálogo é uma opção chave” para acabar com esta crise, disse ao programa Focus on Africa. “Um problema deste tipo pode ser resolvido fora da violência.” Turaki  repetiu depois a ideia à AFP e à Reuters, à qual afirmou que está aberta uma “janela de negociação”.

As declarações contrariam uma afirmação feita na terça-feira pelo ministro do Interior, Abba Moro, que reagiu a uma proposta de trocar as adolescentes por presos, feita pelo líder do grupo, Abubakar Shekau, dizendo que “não cabe ao Boko Haram impor condições”. Questionado pela AFP sobre se isso significava uma rejeição da proposta, respondeu nessa altura: "Claro".

Aviões espiões dos Estados Unidos têm, entretanto, sobrevoado o Norte da Nigéria, à procura das mais de 200 adolescentes raptadas em Abril pelo Boko Haram. “Partilhámos imagens de satélites comerciais com os nigerianos e efectuamos voos de espionagem, de vigilância, e de reconhecimento, com pilotos, sobre a Nigéria, com autorização do Governo”, informou um alto responsável da Administração norte-americana.

Jen Psaki, porta-voz do Departamento de Estado, tinha anunciado na segunda-feira, em conferência de imprensa, que os Estados Unidos estavam a prestar apoio às autoridades nigerianas a nível de informação, vigilância e reconhecimento.

Dois responsáveis citados pela Reuters, sob anonimato, admitiram que os EUA estavam a ponderar a deslocação para a Nigéria de drones, aparelhos aéreos não tripulados. Especialistas norte-americanos estão também a analisar "à lupa" um vídeo do Boko Haram obtido na segunda-feira pela AFP, que mostra as estudantes raptadas. Além dos Estados Unidos, Reino Unido e França enviaram especialistas para colaborarem nas buscas. China e Israel ofereceram auxílio.

Foi no vídeo divulgado na segunda-feira que o Boko Haram propôs trocar as adolescentes, entre os 12 e os 17 anos, pelos seus militantes que as autoridades da Nigéria têm presos. O líder islamista afirma que as raptadas se converteram ao islamismo. “Essas raparigas com que tanto se preocupam, de facto já as libertámos [...] e sabem como as libertámos? Essas raparigas tornaram-se muçulmanas”, afirma, sorrindo. “Só as vamos libertar depois de libertarem os nossos irmãos.” Noutra passagem, declara, porém, que a troca só incluiria as “que não se converteram ao islão”.

O governador do estado de Borno organizou um visionamento de imagens para as famílias e informou mais tarde que “todas” as raparigas que aparecem no vídeo são estudantes raptadas. A 14 de Abril foram 276 raparigas numa zona do país com uma grande comunidade cristã. No início de Maio aconteceu o mesmo a outras 11 em Chibok, estado de Borno, nordeste da Nigéria. Do grupo de 276, dezenas conseguiram fugir mas 223 permanecem, segundo a polícia, nas mãos do Boko Haram.

Num vídeo anterior, Shekau disse que as raparigas seriam tratadas como escravas e ameaçou “vendê-las no mercado” e casá-las à força, o que indignou a comunidade internacional e tem dado origem e múltiplas reacções. Duas antigas “primeiras-damas” francesas, Carla Bruni-Sarkozy e Valérie Trierweiler, participaram em Paris numa manifestação a favor da libertação das adolescentes.

Os ataques do grupo islamista começaram em 2009 e já causaram milhares de mortos – só este ano já são mais de dois mil. O Presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, pediu esta terça-feira ao Parlamento a renovação, por seis meses, do estado de emergência que está há um ano em vigor nos estados de Adamawa, Borno e Yobe, no nordeste, e facilita medidas como a deslocação de tropas e escutas telefónicas.

No domingo, o Presidente francês, François Hollande, propôs uma cimeira sobre a segurança na Nigéria em que também participariam Chade, Camarões, Níger e Benim.

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