Turquia abate avião militar sírio junto à fronteira

Aparelho bombardeava combatentes da oposição que disputam com o regime o controlo de um posto fronteiriço.

Um caça da Força Aérea síria foi abatido neste domingo pela Turquia quando bombardeava rebeldes na fronteira. O primeiro-ministro turco confirmou o incidente, alegando que os sírios violaram o espaço aéreo do país; Damasco denunciou a “agressão flagrante” da Turquia, a quem acusa de estar a dar cobertura à ofensiva dos rebeldes para conquistar um dos pontos fronteiriço na zona.

“Um avião sírio violou o nosso espaço aéreo. Os nossos F-16 levantaram voo e atingiram este avião. Porquê? Porque se violam o nosso espaço aéreo a nossa reacção vai ser feroz", disse o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan durante um comício, a uma semana das eleições municipais na Turquia.

O Estado-Maior de Ancara revelou que os seus radares detectaram, ao início da tarde, dois aviões Mig-23 nas imediações da fronteira sudoeste e que um deles entrou em território turco, ignorando os avisos. Foi atingido por um míssil disparado por um caça turco, despenhando-se a 1200 metros da fronteira, em solo sírio – um vídeo amador divulgado na Internet por rebeldes sírios mostra uma coluna de fumo a elevar-se de uma colina onde o aparelho terá embatido no solo.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que reúne dados de activistas no terreno, diz que “as primeiras informações” indicam que o caça sírio “foi atingido quando bombardeava áreas no norte da província de Latakia” e “despenhou-se em território sírio”.

A Síria não demorou a confirmar a perda do aparelho, mas assegura que foi atingido do seu lado da fronteira. “Numa agressão flagrante, que prova o envolvimento de Erdogan no apoio a grupos terroristas, a defesa antiaérea turca abateu um avião militar que perseguia terroristas no interior do território sírio”, noticiou a televisão estatal, acrescentando que o piloto do caça conseguiu ejectar-se.

Pouco antes do incidente – o mais grave desde que, em Setembro, o Exército turco abateu um helicóptero sírio que entrara no seu espaço aéreo –, o Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio tinha denunciado a “ingerência” de Ancara nos combates em curso na região, acusando a artilharia turca de estar a dar cobertura à ofensiva dos rebeldes. Acções “sem precedentes e injustificadas”, escreveu a agência estatal Sana.

Sexta-feira, três grupos islamistas atacaram Kassab, um dos últimos postos fronteiriços com a Turquia ainda em poder do Exército sírio. Nos combates, que sábado se estenderam a outras zonas de Latakia, já terão morrido mais de 80 combatentes, adianta o Observatório, dizendo ter informações de que os rebeldes conquistaram o posto militar, mas as forças leais ao Presidente Bashar al-Assad resistem na aldeia de Kassab. Situada na costa noroeste da Síria, Latakia é um bastião do regime de Bashar al-Assad – a sua população é maioritariamente alauita, a seita xiita a que pertence o Presidente – e tinha até agora sido poupada à guerra.

O assalto a Kassab é uma de várias contra-ofensivas lançadas pelos rebeldes desde que, na quinta-feira, o Exército sírio, com o apoio do Hezbollah libanês, reconquistou o Krac des Chevaliers, castelo sobrevivente das cruzadas medievais na fronteira com o Líbano, cortando uma das últimas linhas de abastecimento da oposição na zona. Dezenas de combatentes foram mortos na fuga, alguns em ataques já em território libanês. Um incidente que mostra o potencial de alastramento da guerra na Síria, tal como aconteceu dias depois, quando Israel atacou vários alvos nos montes Golã, após um atentado atribuído ao Hezbollah ter ferido quatro soldados naquela zona.

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