Autoridades egípcias reconhecem ter investigado italiano morto no Cairo

O estudante Giulio Regeni foi encontrado com sinais de tortura brutal. Itália desconfia de versão do Egipto

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Activistas egípcios pedem justiça no caso da morte de Giulio Regeni Reuters

O estudante italiano Giulio Regeni foi investigado pela polícia antes do seu desaparecimento no Cairo em Janeiro, disseram as autoridades do país. Esta foi a primeira vez que o Egipto admitiu interesse policial no estudante que desapareceu do Cairo em Janeiro, sendo encontrado dias depois com sinais de tortura.

As autoridades italianas – e de outros países ocidentais – suspeitam que Regeni, doutorando da Universidade de Cambridge, foi morto e brutalmente torturado por um dos serviços de segurança egípcios. O estudante de 28 anos estava no país para fazer uma tese sobre movimentos operários e sindicatos.

As autoridades, que até agora tinham negado qualquer contacto com Regeni, admitiram agora que ele foi interrogado pela polícia. Mas disseram ter encerrado o dossier por a sua actividade no país não ser problemática.

Regeni desapareceu no dia 25 de Janeiro em pleno centro do Cairo e o seu corpo mutilado foi encontrado a 3 de Fevereiro à beira de uma estrada. As autoridades egípcias começaram por dizer que poderia ter sido atropelado. A autópsia feita em Itália revelou, segundo os media do país, que tinha a letra X gravada na testa e numa mão, sinais de choques eléctricos, e várias fracturas ósseas. Não há dúvidas: foi torturado de um modo sistemático e brutal.

A novidade sobre a investigação das autoridades do Cairo à morte de Regeni foi revelada após uma visita do procurador egípcio, Nabil Sadek, ao seu homólogo de Roma, Giuseppe Pignatone, diz a agência francesa AFP.

A investigação começou depois de o líder sindical dos vendedores de rua ter dado à polícia informações em relação ao estudante de doutoramento a 7 de Janeiro de 2016, informava o comunicado conjunto após o final da reunião dos dois procuradores. O objecto da investigação de Regeni é um assunto sensível no Egipto, cujo regime teme greves e acções de protesto.

“Durante três dias, a polícia investigou as suas actividades, que se revelaram não causar preocupação a nível de segurança nacional. A investigação foi então terminada”, disse o procurador egípcio.

Os pais de Giulio Regeni, Paola e Claudio, notam que “é claro pela tortura infligida, o número de vezes que ele teve de suportar isso, os métodos utilizados, só pode ser uma acção perversa de um profissional de tortura”.

A organização de direitos humanos Amnistia Internacional lançou, no final de Junho, uma campanha exigindo saber o que aconteceu com o jovem. A polícia egípcia, que começou por dizer que Regeni tinha sido atropelado, afirmou mais tarde que um grupo especializado em raptos de estrangeiros estava ligado à morte do estudante. Os membros foram mortos num tiroteio com a polícia (em Março), e depois disso, diz a polícia, objectos pessoais de Regeni foram encontrados em casa de um dos elementos do grupo. Esta versão nunca convenceu.

As autoridades italianas vão agora colaborar na investigação tentando recuperar imagens de câmaras de circuito fechado numa estação de metro em que Regeni terá entrado antes de ser raptado. Mas o Egipto tem-se recusado a fornecer registos telefónicos pedidos por Itália.

O caso continua a ter efeitos nas relações entre os dois países, e Roma é um dos principais aliados europeus do Presidente Abdel Fattah al-Sissi. Na prática, Itália suspendeu o envio de peças de aviões F-16 para o Egipto na sequência da demora nas investigações à morte do estudante.

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