Autor do massacre de Fort Hood procura a pena de morte

Nidal Hassan confirmou ter sido autor dos disparos no arranque daquele que promete ser um dos mais mediáticos processos da justiça militar em décadas.

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Hassan Nidal num esboço da primeira audiência do tribunal marcial Brigitte Woosley/Reuters

O advogado de defesa de Nidal Hassan diz que o réu está a tentar ser condenado à pena de morte pelo crime de que é acusado e que confessou, pelo homicídio de 13 militares na base de Fort Hood, no Texas, há quatro anos.

O tenente-coronel Kris Poppe afirmou que “claramente o seu objectivo é remover impedimentos ou obstáculos à pena de morte” e que isso, como advogado auxiliar (Hassan está a representar-se a si próprio), era “repugnante” e que ajudar assim o réu a morrer seria “contrário aos seus princípios profissionais”. “Isso é distorcer os factos”, contrapôs Hassan, segundo os relatos na imprensa.

Poppe ofereceu-se para se encarregar ele próprio da defesa ou então pediu para ser retirado do caso se possível.

O antigo psiquiatra militar tinha confirmado ter sido o autor do ataque dias antes da data prevista para a sua partida para o Afeganistão e falou da sua adesão aos ideais da jihad (guerra santa).

“Eu estava no lado errado, mas mudei de campo”, disse Hassan, ao serviço do Exército desde 1995, na breve declaração inicial daquele que promete vir a ser um dos mais mediáticos processos na história recente da justiça militar americana. Envergando uniforme e sentado numa cadeira de rodas – ficou paraplégico ao ser atingido pelos militares que puserem fim ao ataque – o ex-militar disse ter agido em defesa dos muçulmanos e acrescentou: “Nós os mujahedin, somos muçulmanos, longe de serem perfeitos, que tentam estabelecer uma religião perfeita. Peço desculpa pelos erros que possa ter cometido.”

Ao assegurar a sua própria defesa, o acusado pode contra-interrogar as mais de duas centenas de testemunhas arroladas pela acusação, incluindo os sobreviventes do ataque. Um direito de que prescindiu na terça-feira, quando o tribunal ouviu o sargento Alonzo Lundsford relatar os acontecimentos da tarde daquele 5 de Novembro de 2009 no centro médico onde são vacinados os soldados prestes a partir em missão.

O militar contou que viu Hassan – que deveria viajar também daí a dias para o Afeganistão – passar à sua frente, momentos antes de gritar Alla'hu Akbar (Deus é grande) e começar a disparar com duas pistolas contra os soldados desarmados que aguardavam na fila. Lundsford foi alvejado sete vezes (uma das quais na cabeça) e, apesar de gravemente ferido, tentou fugir, mas Hassan alvejou-o uma última vez nas costas. O major visou deliberadamente “soldados desarmados, desprevenidos e indefesos” com o objectivo de “matar tantos quantos pudesse”, afirmou o coronel Steve Henricks, da equipa de procuradores militares, adiantando que foram disparadas 146 balas.

Condenado arrisca pena de morte
Hassan, muçulmano nascido na Virgínia de pais palestinianos, está acusado de 13 crimes de homicídio premeditado e de 32 tentativas de homicídio, crimes pelos quais poderá ser condenado à morte.

A sentença é aplicada raras vezes pela justiça militar – apenas 16 soldados foram condenados desde a reintrodução da pena, em 1984. Mesmo nos casos em que é aplicada, a maioria das sentenças acaba comutada ou a execução fica a aguardar autorização do próprio Presidente (a última aconteceu em 1961).

"Se há caso nos últimos 30 anos que pode mudar o sistema é este", disse ao jornal New York Times o antigo advogado do Exército Victor Hansen, explicando que só pode ser comparado em visibilidade ao do julgamento, em 1971, do tenente William Calley, o único condenado pelo massacre de My Lay, quando centenas de civis vietnamitas foram mortos pelas tropas americanas. O perito acredita, por isso, que, caso Hassan venha a ser condenado pelo júri (composto por 13 oficiais de patente superior), haverá forte pressão sobre a Casa Branca para dar luz verde à execução.

Certo é que o julgamento começa com polémica. Quer por causa dos custos – Hassan é transportado diariamente de helicóptero entre o presídio e Fort Hood, a fim de poder preparar a sua defesa –, quer por causa dos sucessivos adiamentos – o último decidido no Outono quando Hassan recorreu da ordem que o obrigava a comparecer em tribunal sem a barba que diz usar em sinal da sua fé.

Mais controversa ainda é a decisão do Pentágono de catalogar o processo não como um caso de terrorismo, mas de violência no posto de trabalho. Uma decisão que levou a juíza responsável a não admitir a linha de defesa proposta por Hassan, que alega ter agido para proteger os taliban da ameaça que representavam os militares de partida para o Afeganistão.

Mas a procuradoria também não poderá apresentar os emails trocados nos meses anteriores ao ataque entre o major e Anwar al-Awlaki, um pregador radical nascido nos EUA e que seria morto em 2011 no Iémen num ataque com drones. A acusação vai, ainda assim, insistir que o major Nidal aderiu por sua iniciativa ao Islão mais extremista e apresentará como prova pesquisas que fez na Internet pouco antes do ataque usando palavras como "taliban" e "jihad".

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