Autonomia, arma do compromisso?

É a palavra do momento na Escócia, na Catalunha e até na Ucrânia. Mas travará o desejo independentista?

Como prémio, aliciante ou castigo, a autonomia está a ser usada como arma para travar ou desmobilizar os impulsos independentistas. Na Escócia, Cameron, Clegg e Miliband assinaram em conjunto um comunicado onde se comprometem a garantir que a autonomia da Escócia será grandemente ampliada, caso o “não” à independência saia vitorioso do referendo de amanhã. Na Ucrânia, enquanto o Parlamento de Kiev ratificava o Acordo de Associação com a União Europeia (numa sessão que simbolicamente se realizou em simultâneo com a votação no Parlamento Europeu), foi aprovada também uma outra lei destinada a ampliar a autonomia das regiões a leste controladas pelos independentistas, Donetsk e Lugansk. E em Espanha o ministro dos Assuntos Exteriores admitia recorrer a “todos os meios legais” para impedir o anunciado referendo na Catalunha, incluindo a suspensão da autonomia catalã. Prémio na Escócia, aliciante na Ucrânia e castigo para a Catalunha, a autonomia brandida pelos poderes inglês, ucraniano e espanhol pode não surtir os desejados efeitos, embora seja avançada como arma para o compromisso. No primeiro caso, porque os que radicalmente desejam a independência nunca a trocarão por mais autonomia — embora, olhando para as promessas dos líderes britânicos, não seja difícil ver que uma autonomia ampliada traria à Escócia a curto prazo os benefícios da independência sem os trabalhos desta. No segundo caso, o das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, mesmo com uma amnistia (já aprovada em Kiev) para os seus combatentes, isso deitaria por terra a “autonomia” conquistada pelas armas, o que não está nos seus planos. No caso catalão, a ameaça pode ter o efeito contrário: acirrar mais os ânimos dos que exigem a independência ou querem apenas, pelo voto, poder escolher. Nascidas do desespero, estas autonomias serão pouco úteis.

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