Ataques de "lobos solitários": serão o maior risco que a Europa enfrenta?

O mês de Julho foi pródigo em ataques conduzidos por indivíduos isolados. São mais difíceis de detectar, mas tendencialmente menos letais. Apesar disso, há quem considere que este é o maior risco que a Europa enfrenta. Mas será que o foco está dirigido para o sítio certo?

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Em Janeiro deste ano, o autoproclamado Estado Islâmico publicou um manual “de segurança” a explicar como é que um indivíduo pode lançar sozinho um ataque terrorista. O guia tinha sido editado pela Al-Qaeda, mas o EI fez uma versão actualizada de 64 páginas e 12 capítulos, dando sugestões para terroristas individuais e pequenas células (exemplo: que aplicações encriptadas se devem usar nos telemóveis e quais evitar). É difícil saber quantos o leram e quantos o tentam seguir. Mas segundo declarou a Europol a 20 de Julho, os ataques terroristas de “lobos solitários” são o maior risco que a Europa enfrenta – “São muito difíceis de detectar e de impedir”, alertou.

Os acontecimentos das últimas semanas levam-nos a olhar para este tipo de ataques com outra atenção.

Em Junho foi o tiroteio de Orlando, na Califórnia: Omar Mateen entrou num bar frequentado por homossexuais e começou a disparar; morreram 50 pessoas. Julho tem sido um mês fatídico: primeiro foi a carnificina de Mohamed Lahouaiej Bouhlel, tunisino a viver em França, que lançou um camião de 19 toneladas contra uma multidão, em Nice, e matou 84 pessoas; dias depois, um jovem de 17 anos, armado com um machado e uma navalha, atacou vários passageiros num comboio em Wurzburg, na Alemanha, ferindo quatro com gravidade; a Baviera ainda estava a digerir esse ataque quando Ali David Sonboly, de 18 anos, lança um tiroteio às portas de um centro comercial em Munique, que fez nove mortos, a maioria jovens. A lista termina com outro ataque na região, quando um sírio de 27 anos, a quem tinha sido negado o pedido de asilo na Alemanha, se fez explodir nas imediações de um festival de música (foi ele a única vítima mortal e 15 pessoas ficaram feridas).

Nem todos foram reivindicados pelo Estado Islâmico, nem todos foram considerados ataques terroristas. Mas as distinções entre um ataque organizado por um grupo jihadista e os “lobos solitários” nem sempre são fáceis de estabelecer.

E não é apenas uma percepção, é real: os ataques lançados por “lobos solitários” estão a aumentar – apesar de poderem ainda ser considerados raros.

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Em Junho, Omar Mateen matou 50 pessoas num bar frequentado por homossexuais em Orlando JIM YOUNG/REUTERS

O que explica esse aumento?, perguntámos a Ramon Spaaij, sociólogo da Universidade de Victoria que está prestes a editar o livro The Age of Lone Wolf terrorism: A New History: “Há muitos factores que devem ser vistos em conjunto. Primeiro, as mudanças tecnológicas: a Internet e as redes sociais permitem a indivíduos alienados relacionarem-se com ideologias e comunidades radicais de forma muito mais fácil, a partir da sua sala de estar. Em segundo lugar, e relacionado com isto, estamos a assistir a uma mudança relativa das grandes organizações terroristas para formas de conflito muito mais descentralizadas e individualizadas. Um contorno fundamental disto é que estes ataques não são dirigidos por organizações terroristas, mas cometidos por indivíduos que são dispersamente inspirados por estas organizações e a sua visão do mundo. Os lobos solitários são operacionalmente independentes, mas frequentemente vão buscar a estes extremistas as suas crenças e mensagens.”

Benoît Gomis, analista de segurança da Chatham House, refere que “globalmente, os ataques e as vítimas aumentaram significativamente em 2013 e 2014, e apesar de terem diminuído ligeiramente em 2015, permanecem no nível mais elevado desde o 11 de Setembro [de 2001]”, comenta ao PÚBLICO. “Os ataques de terroristas solitários na Europa Ocidental também se tornaram mais frequentes, em parte devido à crescente atracção do Estado Islâmico nos últimos anos, uma organização que tem apelado a este tipo de ataques em França, Reino Unido, Bélgica e outros países europeus e do Ocidente.”

O Estado Islâmico começou por incentivar os jihadistas a juntarem-se fisicamente ao seu “califado” na Síria e no Iraque, combatendo ao seu lado. Mas a mensagem entretanto mudou. Brett H. McGurk, o enviado especial do Presidente Barack Obama na luta contra o EI, disse recentemente ao Congresso que o grupo perdeu 47% do seu território no Iraque e 20% na Síria. Essas perdas significam menos lucros do petróleo e menos impostos cobrados aos habitantes das zonas que costumavam controlar.

Estes recuos militares no terreno levaram o EI a apelar aos ataques, seja de que forma for, contra os países que fazem parte da coligação internacional que o combate. Em Setembro de 2014, o porta-voz do EI, Abu Muhammad al-Adnani, ordenava de forma explícita a atacar o inimigo: "Se não forem capazes de encontrar uma bomba ou uma bala, então esmaguem a sua cabeça com uma pedra, apunhalem-no com uma faca, atropelem-no com o vosso carro, atirem-no de uma falésia, estrangulem-no, envenenem-no…”.

“A Al-Qaeda e sobretudo o EI têm apelado aos atacantes solitários de forma a conseguirem espalhar o seu alcance para além dos planos que eles realisticamente conseguiriam desenvolver e executar enquanto grupo”, continua Gomis. Mas ressalva: Os ataques por “lobos solitários” “tornaram-se mais vulgares do que aqueles que são executados por grandes organizações, mas não constituem uma ameaça considerável na Europa Ocidental ou na América do Norte”.

Para Ramon Spaaij, é preciso “manter as coisas em perspectiva e encarar o terrorismo de ataques solitários como apenas um dos riscos à segurança. Os ataques não acontecem frequentemente se olharmos sob uma perspectiva mais ampla, e na maioria dos casos (com excepções como Orlando ou Nice) o número de vítimas mortais tende a ser bastante baixo quando comparado com os ataques em larga escala cometidos pelas organizações terroristas. Isto porque os 'lobos solitários' geralmente têm uma capacidade de acção limitada e são sobretudo amadores.”

Em todo o caso, é mais fácil impedir um ataque de um grupo do que de um único indivíduo que pretende seguir os aconselhamentos de Adnani, têm repetido os analistas. O que, no fundo, pode ser um sinal de fragilidade da própria organização terrorista. “A resistência sem líder é também uma admissão da fraqueza dos atacantes. Os grupos hierárquicos são bastante mais eficientes, por isso a resistência sem líderes só é praticada quando o grupo é ineficaz”, escreveu a 21 de Julho a Stratfor, instituição americana especialista em segurança e serviços de informação. Os ataques de Nice e de Orlando serão algumas das excepções infelizes à ineficácia destes ataques solitários: juntos fizeram 133 mortos e dezenas de feridos (para comparação, os ataques de Paris em Novembro, organizados em grupo, mataram 130).

A Stratfor refere ainda que este não é um fenómeno recente e que há uma década que tem assistido à mudança do movimento jihadista de uma estrutura hierárquica para um modelo sem chefes. Foi isto que o ideólogo Abu Musab al-Suri defendeu ainda no início dos anos 2000 e que a Al-Qaeda da Península Arábica começou a incentivar em força em 2009. Criou até a revista Inspire para radicalizar os jihadistas da base e equipá-los de forma a atacarem os seus países de residência sem o apoio hierárquico da organização. Sabe-se que a Inspire foi lida pelos atacantes da maratona de Boston (nomeadamente um artigo chamado “Como fabricar uma bomba na cozinha da tua mãe”) e de San Bernardino. O Estado Islâmico adoptou o conceito, tendo vindo a revindicar atentados nos quais não tem participação directa.

Alguns especialistas dizem que o EI exerce uma particular atracção junto de pessoas com problemas psicológicos ou que estão nas franjas da sociedade. São rebeldes à procura de uma causa. Isto traz complicações à própria categorização do terrorismo. Como distinguir o que é um ataque terrorista e o que é um acto criminoso de um indivíduo que apenas estava à procura de um pretexto para agarrar numa arma?

O que é o Estado Islâmico?

“Um 'lobo solitário' terrorista tem uma motivação política ou ideológica e o seu acto de violência não pode ser atribuído apenas a motivos financeiros ou problemas pessoais. Se não houver qualquer tipo de motivação política, na minha perspectiva, o acto não poderá ser considerado terrorismo”, considera Ramon Spaaij. Para além disso, terá de ser lançado por um único agente, ou pequena célula, cuja decisão de agir não é imposta por nenhum grupo, ainda que possa ser inspirado por outros.

A agência Amaq, ligada ao Estado Islâmico, disse que Bouhlel, o homem que conduziu o camião em Nice, era “um soldado do EI” que decidiu responder ao seu apelo. Mas qual era de facto a ligação do tunisino ao grupo jihadista? A Amaq não deu detalhes.

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O Governo francês reconheceu que Bouhlel, que não ia à mesquita e tinha registo na polícia por pequenos crimes, não era suspeito de radicalização. Ainda assim, alargou o estado de emergência e anunciou um aumento das verbas canalizadas para o combate ao Estado Islâmico na Síria e no Iraque. Ou seja, estreitou a ligação entre o “lobo solitário” e o grupo jihadista.

Os lobos da extrema-direita

Num artigo de 24 de Julho do New York Times escrevia-se que “numa altura em que o terrorismo se tornou uma questão central para a política no Ocidente, definir algo como terrorismo não é apenas uma questão de determinar um motivo. É em si mesmo uma posição política”.

O mesmo artigo dava como exemplo a caso de Dylann Roof, o jovem de 22 anos que no ano passado matou nove pessoas numa igreja frequentada sobretudo por negros no estado norte-americano da Carolina do Sul. Tinha uma fotografia no Facebook onde aparecia com símbolos usados pelos supremacistas brancos: um da África do Sul sob apartheid, outro da Rodésia branca; mais tarde admitiu que queria desencadear uma guerra racial. Mas quando o Ministério Público anunciou as queixas contra ele, a palavra terrorismo não apareceu. Alguns especialistas comentaram que isso era decorrente da lei federal, que exige certos actos como desvio de aviões para considerar que há terrorismo; muitos afro-americanos consideraram que foi apenas um reflexo da tendência para subvalorizar a violência racial de que são vítimas. E se em vez de símbolos da supremacia branca, o mesmo agressor tivesse ícones islâmicos? Será que a palavra terrorismo continuaria ausente da acusação?

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O ataque em Munique não foi catalogado como terrorista, apesar de Ali David Sonboly se ter inspirado no extremista norueguês Anders Breivik HEIKO JUNG/AFP

Várias organizações muçulmanas têm chamado a atenção para o facto de “lobos solitários” tresloucados serem mais facilmente chamados de terroristas se forem muçulmanos. Os analistas reconhecem que um indício de religiosidade islâmica acelera essa etiquetagem. A comparação foi feita ainda pelo NYT: Nice sofreu claramente um atentado terrorista, reivindicado pelo EI; já o ataque lançado no centro comercial em Munique não foi catalogado dessa forma. Porquê se o agressor tinha sido claramente inspirado por Anders Behring Breivik, o norueguês de extrema-direita que assassinou 77 pessoas exactamente cinco anos antes?

“Os ataques terroristas de lobos solitários de extrema-direita continuam a ser uma ameaça a que se dá menos atenção do que se deveria”, adianta Benoît Gomis ao PÚBLICO. “São geralmente utilizados termos com menos carga para os descrever, como 'extremismo' ou 'crime de ódio', e a saúde mental é normalmente enfatizada como a razão principal para os ataques, com muito mais frequência do que quando o atacante é muçulmano.”

O termo “lobo solitário” vem precisamente de uma ligação à extrema-direita: foi popularizado na década de 1990 pelos supremacistas brancos Tom Metzger e Alex Curtis, que apelaram a quem pensasse como eles que cometessem actos de terrorismo sem coordenação hierárquica.

Segundo um relatório liderado pelo Royal United Services Institute intitulado Counter Lone Actor Terrorism (no qual Gomis participou), os ataques solitários de simpatizantes da extrema-direita fazem muito mais vítimas na Europa do que os perpetrados em nome do islão. A análise foi feita aos incidentes ocorridos entre 2000 e 2014: 98 planos e 72 ataques em 30 países europeus fizeram 94 mortos e 260 feridos; os ataques jihadistas fizeram por sua vez 16 mortos e 65 feridos.

Para além disso, o estudo conclui que o extremismo dos “lobos solitários” de direita é bem mais difícil de detectar do que o dos “lobos solitários” que reclamam inspiração islâmica. “Foi verificado que 40% dos extremistas de direita foram descobertos por factores de sorte, durante uma investigação a outros crimes, ou porque o agressor fez deflagrar acidentalmente um dispositivo, chamando a atenção para as suas actividades. Apesar de também se terem verificado factores de sorte em alguns exemplos de terrorismo de inspiração religiosa, 88% das intervenções resultaram de investigações, sugerindo aqui uma clara disparidade”.

O relatório alerta para o facto de os ataques de extrema-direita serem motivados “sobretudo por posições anti-imigração e islamofobia, muitas vezes acompanhados por ideais da supremacia branca”; a ameaça “intensificou-se à luz da crise dos refugiados na Europa, que de uma forma ou outra afecta todos os países europeus”.

Outra das diferenças: é mais provável um extremista de direita sofrer de distúrbios mentais, ou de isolamento social.

Identidade, não ideologia

Numa conferência do Foreign Policy Research Institute em Outubro de 2014, Marc Sageman, antigo agente da CIA que esteve destacado em Islamabad e trabalhou de perto com os mujahedin afegãos, e é agora consultor do Governo americano sobre contra-terrorismo, afirmava que o que está em causa nos ataques é sempre uma questão de identidade muito mais do que de ideologia.

“A teoria do fanatismo é confortável: as pessoas pensam de certa forma e depois agem de acordo com aquilo que pensam. Já passei muito tempo com jihadistas, e não estou convencido de que seja assim. Temos 1,3 mil milhões de muçulmanos e 10 mil jihadistas em todo o mundo. [Explicar o jihadismo com a ideologia] não faz sentido... Quando estou com eles pergunto-lhes: ‘Porque fizeste aquilo?’ E eles respondem: ‘Porque estou a defender os meus amigos. Há estrangeiros a invadir o meu país e eu mato-os’...”.

É, por isso, muito mais uma questão de identidade com um grupo. “Não é preciso ser politizado. Acontece alguma coisa que nos toca e de repente activamos a nossa identidade social”. Um ataque a um é um ataque a todos. “Começamos a pensar em nós como um soldado que defende o seu grupo”, adianta Sageman. E quanto mais radicais formos, mais influência exercemos sobre os restantes elementos. “É por isso que temos fenómenos do tipo ‘lobos solitários’: são soldados de uma comunidade mais alargada... Pensam em si como alguém que se sacrifica pelos outros: sou um soldado e um soldado usa a violência... A ideologia pode ajudar a forjar uma identidade”, mas “não se combate para defender uma ideologia, combate-se para defender os membros do nosso grupo”. (Sageman questiona o próprio termo terrorista: Vistos de um lado são terroristas, vistos do outro [o seu] são combatentes pela liberdade e consideram os outros como terroristas; exemplifica com o caso dos mujahedin afegãos, que enquanto lutavam contra as forças soviéticas que invadiram o Afeganistão eram vistos pelos EUA como “combatentes pela liberdade”, mas quando passaram a combater os soldados americanos, passaram a ser considerados terroristas: “Eles não mudaram, nós é que sim”.)

“Vêem-se como figuras que estão no lado certo da História e que lutam por uma causa importante”, acrescenta Ramon Spaaij.Quero com isto dizer que a sua ideologia, planeamento e execução de um ataque terrorista tem grande significado para eles. Dá-lhes um forte sentido de missão, um sentido de pertença (de fazerem parte de uma causa maior), e frequentemente uma percepção de redenção pessoal e de serem alguém importante no mundo, especialmente quando de outra forma são bastante marginalizados (por exemplo, estão desempregados, ou pertencem a um grupo que na sua opinião é estigmatizado).”

Ramon Spaaij fez um estudo juntamente com Mark Hamm, criminologista da Indiana State University, co-autor do seu livro, onde identificaram 124 ataques de lobos solitários nos Estados Unidos desde 1940 (incluindo os que foram planeados mas não executados). Concluíram também que raramente estes ataques têm apenas motivações políticas.

Mas os dados não chegam para permitir traçar “um perfil”, adianta Spaaij ao PÚBLICO. “São heterodoxos na idade, antecedentes sociais e demográficos, historial criminal, e por aí fora.” Em todo o caso, há alguns pontos de contacto: “A vasta maioria são homens. Cerca de 36% têm (ou tiveram) problemas psicológicos ou de saúde, que vão de moderados a graves. Muitos estão socialmente isolados, têm poucos amigos e familiares. Cerca de metade tem historial criminal, que envolve crimes como roubos, agressão ou violência contra mulheres, embora a natureza destes crimes varie bastante. A maioria publicita as suas intenções antes de atacar. Escrevem cartas, manifestos, tweets, ou produzem vídeos, ou simplesmente partilham com alguém do seu ambiente social (família, amigos, etc). Tendem a combinar motivações políticas e pessoais”.

A diversidade torna mais difícil apostar num perfil para tentar prevenir estes actos, sendo “mais útil focar nos seus comportamentos – ou seja, no que fazem e como fazem, incluindo o download de material radical, compra de ingredientes para explosivos ou de armas de fogo”, adianta Spaaij.

“O risco zero não existe”, diz Benoît Gomis. “Há formas relativamente fáceis de um indivíduo motivado por ideais políticos usar violência contra civis de forma a gerar o medo e o pânico, e nenhum governo do mundo – incluindo os mais autoritários – conseguirá desarticular todos os planos de ataque.” Mas há passos a dar por parte dos responsáveis europeus: “ Uma melhor polícia comunitária, maior partilha de informação, tanto a nível interno como internacional, maior foco no comércio de armas legais e ilegais, em conjunto com um repensar dos principais factores que estão por trás do terrorismo – incluindo as intervenções militares, discriminações religiosas e étnicas, saúde mental, e desigualdades sociais e económicas”.

Sageman também referia que a desradicalização não se poderá fazer de fora. “Tudo o que o outro disser vai imediatamente ser apreendido como um disparate, tal como se a Al-Qaeda disser alguma coisa nós desvalorizamos. Tem um impacto negligenciável. A crítica tem de vir de dentro”. E dá um exemplo: “Quando Nelson Mandela, chefe da ala militar do ANC, disse aos membros do partido para abdicarem da violência as pessoas seguiram-no”. O que não significa que não haja nada que se possa fazer. Um conselho: “Usar instrumentos de justiça justos.”

Desradicalização: "Para cada pessoa há uma janela de oportunidade”

Os últimos ataques na Europa têm sido eficazes a espalhar o medo. E esse “é o objectivo de qualquer acto terrorista”, refere Lawrence Husick, investigador do Foreign Policy Research Institute e co-presidente do Centro de Estudos do Terrorismo, em Filadélfia. “Os atentados contra civis inocentes, que estão a fazer coisas vulgares, são eficazes porque aqueles que tomam conhecimento do ataque criam uma empatia mais forte com as vítimas.”

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Mas aqui os responsáveis políticos e os media têm também um papel a desempenhar. “O nível do medo relacionado com o terrorismo está em geral mais ligado ao número de pessoas mortas num ataque, a quão raro e surpreendente ele é, e às reacções políticas e cobertura mediática subsequentes”, afirma Benoît Gomis. “Isto vem sublinhar a responsabilidade das autoridades e comentadores numa resposta eficaz, equilibrada e humana ao terrorismo, dados os perigos evidentes de haver uma reacção desproporcionada.”

Também Lawrence Husick defende que é preciso pôr as coisas em perspectiva: “Até pode ser que haja mais indivíduos radicalizados, mas do ponto de vista estatístico, corremos mais perigo de sermos atingidos por um relâmpago. Temos de aprender a sobreviver a eles.” Como? “Negando-lhes a cobertura mediática que os faz parecer tão perigosos e frequentes. Todos os ataques terroristas são cobertos até à exaustão: o que aconteceu? Quem são as vítimas? O que dizem as famílias? A polícia? Os políticos? O homem da rua? Vai voltar a acontecer? E a página de Facebook do atacante?”

O terrorismo mata em média 17 pessoas por ano nos Estados Unidos, mas “todos os anos matamos cerca de 30 mil pessoas com as nossas armas”, adianta Husick. “Matamos cerca de 30 mil com os nossos automóveis. Matamos muitos mais ainda com os nossos maus hábitos alimentares e falta de exercício físico. Cobertura mediática? Nada.” E conclui: “A ameaça é quando os cidadãos começam a pensar que correm perigo e alteram as suas vidas, as leis dos seus países, e as posições que os seus países têm no mundo. Veja-se Donald Trump [candidato republicano à Presidência americana]: é um grande exemplo dos efeitos do terrorismo.”

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