Ataque a paiol volta a ensombrar estabilidade em Moçambique

Suspeitas de acção que matou sete soldados recaem sobre a Renamo. Antigo movimento guerrilheiro tem ameaçado boicotar eleições municipais de Novembro.

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Renamo em campanha eleitoral. Desta vez principal força da oposição ameaça boicotar Carlos Litulo/AFP-Arquivo

Um ataque a um paiol das Forças Armadas de Moçambique, na província de Sofala, centro do país, matou sete soldados e fez aumentar a tensão e a preocupação sobre a situação político-militar, quando se aproxima um período eleitoral.

Na madrugada de segunda-feira, homens armados atacaram o paiol, no posto administrativo de Savane, distrito do Dondo, segundo a imprensa moçambicana. Centenas de habitantes fugiram mas tinham já regressado a casa na manhã desta terça-feira, segundo a RDP África.

Carlos Luís, um soldado ferido no ataque, disse ao jornal O País que os atacantes, cerca de dez, “traziam fardamento igual ao dos homens armados da Renamo” (Resistência Nacional de Moçambique, antigo movimento rebelde, principal partido da oposição). Afirmou também que se apoderaram de armamento e munições.

O ataque ocorreu próximo de uma via ferroviária estratégica, a Linha de Sena, vital para a exportação de carvão moçambicano.

O partido liderado por Afonso Dhlakama não tinha, até à manhã desta terça-feira, assumido a acção.Um porta-voz disse que o caso está a ser investigado. “Não tenho conhecimento sobre esse ataque, por isso não posso responder [sobre] o que não conheço”, disse Saimone Macuiana, líder da delegação da Renamo nas negociações com o Governo, citado pelo site Canalmoz. 

José Pacheco, ministro da Agricultura e chefe da delegação governamental às conversações com a Renamo, não hesitou em atribuir o ataque aos antigos rebeldes e disse que a acção de segunda-feira “não caracteriza o espírito de diálogo”. “Essas matérias hão-de merecer o tratamento devido em fóruns próprios” afirmou, citado pelo jornal Notícias.

As eleições municipais em Moçambique estão agendadas para Novembro e as presidenciais para 2014. A tensão entre o Governo da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no Governo) e a Renamo tem-se agravado à medida que se aproximam as eleições. Os antigos rebeldes ameaçam boicotar a consulta.

Em Abril, também na província de Sofala, um ataque de elementos da Renamo a um comando da polícia causou a morte de quatro agentes da Força de Intervenção Rápida. Alguns dias depois, três civis foram mortos numa emboscada.

O Governo e a Renamo têm mantido conversações, sem resultados visíveis. A antiga guerrilha pretende a renegociação dos acordos de paz de 1992 e contesta as leis eleitorais aprovadas pela maioria da Frelimo, que controla, com larga maioria, o Parlamento. O partido da oposição contesta, por exemplo, a composição da Comissão Nacional de Eleições

Afonso Dlhakama retirou-se no ano passado para as montanhas da Gorongosa e ameaçou voltar à guerra. O antigo movimento guerrilheiro combateu o Governo da Frelimo, então partido único, durante 16 anos, até 1992.

Analistas ouvidos pela Reuters consideram que a Renamo terá cerca de um milhar de homens armados mas não representa uma ameaça significativa, nem militar nem política, para a Frelimo.

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