Ataque a diplomata holandês na Rússia aumenta tensão entre os dois países

O espancamento do chefe da embaixada holandesa em Moscovo é apenas mais um incidente entre os dois países, num ano em que se comemoram os 400 anos das relações diplomáticas entre a Holanda e a Rússia.

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Rússia e Holanda estão a assinalar da pior maneira os 400 anos das suas relações diplomáticas KIRILL KUDRYAVTSEV/AFP

Aquele que devia ser um ano de fortalecimento dos laços entre a Holanda e a Rússia está a revelar-se um ano “desastroso”. É assim que o deputado holandês Sjoerd Sjoerdsma descreve a sucessão de acontecimentos que têm esfriado as relações entre os dois países nos últimos meses. Na noite de terça-feira, dois homens, vestidos de electricistas, invadiram a casa do chefe da embaixada holandesa em Moscovo, Onno Elderenbosch, e espancaram-no.

No espelho da sala da moradia do embaixador, os assaltantes desenharam um coração cor-de-rosa, atravessado por uma seta, em torno da sigla LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros). O embaixador russo em Haia foi chamado de imediato ao Ministério dos Negócios Estrangeiros holandês e o primeiro-ministro, Mark Rutte, classificou o incidente de “muito sério”. O ministro dos Negócios Estrangeiros holandês, Frans Timmermans, falou com o seu congénere russo, Serguei Lavrov, que lamentou aquilo que considerou “crime sério”, de acordo com a BBC.

Há uma semana os papéis invertiam-se. Timmermans pedia desculpas na sequência da detenção de um diplomata russo. A polícia forçou a entrada na casa do adido da embaixada russa em Haia Dmitri Borodin e, segundo a versão de Moscovo, terá agredido o diplomata em frente dos filhos de dois e quatro anos. Segundo a BBC, a polícia estaria a responder uma denúncia dos vizinhos de que os filhos do diplomata seriam alvo de maus tratos, acusação que Borodin negou. O Presidente russo, Vladimir Putin, reagiu pessoalmente ao incidente, declarando ser uma “violação grosseira” da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas.

Problemas no Árctico

Em Setembro, um navio da organização ambientalista Greenpeace foi apreendido pelas autoridades russas, nas águas do Árctico. Os activistas tentavam subir a uma plataforma petrolífera da empresa russa Gazprom, como forma de protesto pelos danos ambientais das perfurações naquela área, quando foram detidos e levados Murmansk, onde foram julgados e acusados de pirataria organizada.

Seguiu-se uma onda de protestos em várias cidades mundiais, mas apenas um Estado decidiu agir legalmente contra a decisão: a Holanda. O Arctic Sunrise tinha bandeira holandesa, pelo que a Holanda abriu um processo de arbitragem com base na Convenção das Nações Unidas sobre o direito do mar. Timmermans considerou as detenções, que incluíram dois cidadãos holandeses, como “ilegais”. “Quero falar com os meus colegas russos para libertarmos estas pessoas o quanto antes”, disse na altura o ministro holandês. “Não percebo como uma coisa destas pode ter alguma coisa a ver com pirataria, não estou a perceber qual pode ser a base legal para esse tipo de acusação.”

Moscovo, por seu lado, acusou a Holanda de não ter respondido aos seus pedidos. “A Rússia pediu várias vezes à parte holandesa que proibisse as acções do navio, infelizmente não foi o caso”, disse o vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Alexei Meshkov. Entretanto, os 28 activistas da Greenpeace continuam detidos e a Justiça russa recusa apelos sucessivos para a libertação sob fiança.

Nem Putin escapou ao rol de embaraços entre os dois países. Numa visita a Amesterdão em Abril, o Presidente russo foi apupado por manifestantes que protestavam contra as políticas homofóbicas do seu Governo.

O ano “desastroso” das relações russas e holandesas começou logo em Janeiro, com o suicídio do dissidente Alexander Dolmatov, no centro de expulsões do aeroporto de Roterdão. Dolmatov deixou uma carta de despedida, mas o seu advogado sugeriu, na altura, que as autoridades holandesas poderão tê-lo forçado a escrevê-la. A verdadeira razão para o suicídio de Dolmatov terá sido, de acordo com o advogado, a recusa do seu pedido de asilo pela Holanda.

No meio de um acidentado ano para os dois países, Guilherme Alexandre e Máxima, os monarcas da Holanda, têm uma visita marcada para Moscovo no início do próximo mês, que já foi alvo de pedidos de cancelamento. Próximo incidente à vista?
 
 

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