Assad lança ofensiva com ajuda russa, NATO pronta a enviar forças para a Turquia

Os mísseis de cruzeiro russos marcaram o início de uma tentativa do exército do regime de reconquistar território no Ocidente. Aliança Atlântica tenta definir a sua posição face a esta guerra

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Em busca de sobreviventes e corpos sob as ruínas de um bombardeamento russo a Sul de Idlib Khalil Ashawi/REUTERS

Enquanto a NATO se dizia disposta a enviar forças para a Turquia para responder às incursões de caças russos no espaço aéreo de Ancara e à “escalada inquietante” da presença militar de Moscovo na Síria, do terreno vinham notícias do alargamento de uma ofensiva das forças de Bashar al-Assad no Ocidente do país contra a oposição, ajudada pelos mísseis de cruzeiro e outros meios militares russos.

O general sírio Ali Abdallah Ayoub anunciou solenemente na televisão que o exército tinha “começado [quinta-feira] uma vasta ofensiva para esmagar os grupos terroristas e libertar as regiões e localidades que têm sofrido com o terrorismo e com os seus crimes”, cita a AFP. Mas o ataque já tinha começado quarta-feira, diz a Reuters, citando o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (que tem observadores no terreno), e visa zonas estratégicas para Assad, mas onde o grupo Estado Islâmico não tem conseguido implantar-se.

Sob fogo têm estado a zona de Hama e a vizinha planície de Al-Ghab, cujo controlo as forças da oposição obtiveram em Agosto, e que tem estado a ameaçar Latakia – uma aliança de forças de inspiração jihadista conhecida como Exército da Reconquista. Percebe-se a preocupação causada a Assad sobretudo pela ameaça a Latakia, a província junto ao mar que é o bastião da seita alauita, a que pertence a família do Presidente sírio. Isto explica porque é que esta zona do país se terá tornado o principal alvo dos bombardeamentos russos que múltiplas denúncias dizem que estão a usar bombas de fragmentação, proibidas por uma Convenção Internacional de 2008.

Os combates entre o exército sírio, apoiado por ataques aéreos russos, estão a ter como objectivo primordial o controlo de Jub al-Ahmar, uma elevação em Latakia que, se for capturada, permitirá às forças de Assad bombardear as posições da oposição, disse à Reuters Rami Abdulrahman, do observatório sírio. “A luta intensificou-se, mas não houve ganhos decisivos”, afirmou. Fontes rebeldes dizem ter abatido um helicóptero, sem que haja confirmação sobre a nacionalidade do piloto.

O jornal Al-Watan, próximo do regime sírio, disse que o exército recuperou “70km quadrados e uma dezena de aldeias”, diz a AFP, mas a oposição desmentiu quaisquer ganhos.

Estreia dos “Kalibr”
Mas o principal desenvolvimento militar, aquilo que fez soar as campainhas de alerta na Aliança Atlântica, foi o facto de a Rússia ter disparado mísseis de cruzeiro a partir do mar Cáspio – novos mísseis, equivalentes aos Tomahawk norte-americanos, capazes de percorrer 1500 km de distância (de São Petersburgo a Berlim são cerca de 1700 km). O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, chamou-lhe “uma escalada inquietante”.

A introdução de mísseis de cruzeiro pelos russos na guerra é vista como uma escalada devido às suas características. Voam horizontalmente, a uma altitude relativamente baixa, como um drone, por exemplo, e podem ser dirigidos para um alvo com grande precisão, tornando-se difíceis de detectar e interceptar pelo inimigo. São por isso um “motivo de preocupação”, sublinhou Stoltenberg, à entrada para uma reunião de ministros da Defesa da Aliança, em Bruxelas, com a Rússia no topo da agenda.

Mas tanto quanto se sabe no Ocidente, estes novos mísseis Kalibr (ou SSN-30A) apenas tinham sido disparados em testes. Nunca tinham sido usados num palco de operações real. A guerra na Síria foi a sua estreia, sobrevoando o Iraque e o Irão. Mas a CNN diz, citando fontes militares e dos serviços de espionagem, que alguns destes mísseis caíram no Irão. O Departamento de Estado norte-americano, no entanto, não confirma esta informação - e a Rússia desmente-a.

Os mísseis foram lançados pela frota que a Rússia mantém no Mar Cáspio, um mar interior, que muitas vezes é usada para testar novas armas, segundo o site russo Sputnik.

A Turquia, vizinha da Síria – e com os bombardeamentos russos a acontecerem à sua porta, e aviões de Moscovo a violarem o espaço aéreo turco –, pede a solidariedade da Aliança Atlântica. “A NATO já respondeu aumentando os nossos recursos, a nossa capacidade e a nossa agilidade para enviar forças também para o Sul, incluindo na Turquia”, disse Stoltenberg, citado pela Reuters.

Sem quererem ultrapassar a linha vermelha que envolveria a NATO num confronto com a Rússia, mas também sem quererem parecer demasiado passivos, as nações da Aliança Atlântica vêem-se de mãos atadas. A Turquia pediu que os mísseis Patriot colocados no seu território para se defender de eventuais ataques provenientes da Síria permanecessem lá, mas a Alemanha e os EUA continuam determinados a retirar todos os soldados e material até ao fim de Janeiro, como previsto.

“A decisão de retirá-los é correcta”, afirmou a ministra da Defesa alemã. “A questão a colocar é que perigos poderiam ser evitados se permanecessem”, acrescentou, sugerindo que a Força Aérea turca é capaz de interceptar os caças russos.

França e Reino Unido, os dois principais parceiros europeus da NATO, estarão dispostos a utilizar a nova força de reacção rápida para além das fronteiras da Aliança, para estabilizar governos de pós-conflito na Líbia ou na Síria. Mas outras nações, incluindo os do Báltico e a Polónia, diz a Reuters, preferiam ver uma presença permanente da Aliança no seu território, para dissuadir Vladimir Putin de perturbar os seus países.

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