Assad espera mudança de tom, mas desvaloriza declarações de Kerry

Declarações de John Kerry pareciam indicar um papel para Assad em negociações para um cessar-fogo na Sìria. Casa Branca desmentiu e Assad desvalorizou.

Foto
Assad deu sinais de que uma mudança no tom dos EUA seria bem recebida em Damasco Louai Beshara/AFP

O Presidente sírio, Bashar al-Assad, desvalorizou na segunda-feira as declarações do secretário de Estado norte-americano que sugeriam que este pudesse participar num processo de negociações para um cessar-fogo na Síria.

“Declarações do exterior não nos dizem respeito”, afirmou Assad às televisões sírias. Em todo o caso, o Presidente da Síria parece ter recebido com agrado os sinais de uma possível mudança no tom no discurso dos EUA. Seria algo positivo, disse Assad, de acordo com o Guardian, acrescentando, contudo, que iria esperar para ver. “Estamos ainda a ouvir declarações e devemos esperar por acções e decidir”, disse.

John Kerry afirmou no domingo que um acordo de cessar-fogo e transição política para a Síria teria de passar por negociações com Bashar al-Assad. “No fim, teremos de negociar”, disse o secretário de Estado norte-americano numa entrevista à CBS. 

As declarações de Kerry foram interpretadas como um acto de atenuação do discurso de Washington contra o Governo de Assad. Kerry abordou directamente a plataforma de negociações Genebra I, que ocorreram em 2012 e que contemplavam um Governo de transição a ser decidido pelo Governo sírio e grupos de oposição. Isto deixaria em aberto a permanência de alguns elementos ligados ao actual executivo, uma vez que Genebra I não determina quais os elementos que podem fazer parte de um novo Governo de transição.

Na segunda-feira, a porta-voz do departamento de Estado norte-americano reiterou o discurso dos EUA sobre Bashar al-Assad que Kerry parecia ter deixado de lado no domingo: “continuamos a acreditar que não existe futuro para Assad na Síria”, disse Jen Psaki.

Na entrevista de domingo, Kerry avançou que os EUA estavam dispostos a aumentar a pressão sobre Assad para que este aceitasse entrar em negociações com as forças de oposição tendo em vista um cessar-fogo no conflito sírio e um processo de transição política.

Mas, de acordo com as declarações de segunda-feira do departamento de Estado, Kerry não se referia afinal a um papel directo de Assad nessas negociações. Citada pela Reuters, Jen Psaki afirmou que “nunca seria – e não era isso que o secretário [de Estado] Kerry queria implicar – o próprio Assad [a participar nas negociações]”.

Com o autoproclamado Estado Islâmico [EI] na lista de prioridades dos EUA, a preocupação em Washington parece ser a de não permitir mais instabilidade política na região. Na semana passada, o director da CIA, John Brennan, sugeriu precisamente isso. “A última coisa que nós queremos é permitir-lhes [EI] que marchem em Damasco”, disse Brennan, citado pelo Guardian, referindo-se à incerteza sobre quem poderia surgir como sucessor de Assad.  

Sugerir correcção
Ler 6 comentários