As polémicas eleições no Burundi abrem com mortos, explosões e trocas de tiros
O actual Presidente do Burundi recandidata-se ao cargo pela terceira vez, desafiando meses de confrontos violentos. País arrisca novo conflito interno.
Poucas horas depois de abrirem as urnas para as eleições presidenciais no Burundi, na manhã desta terça-feira, uma multidão juntava-se perto de um cadáver no bairro de Nyakabiga, em Bujumbura. Segundo dizem, citados pela Al-Jazira, o corpo pertence a um membro da oposição a Pierre Nkurunziza, o actual Presidente e a figura responsável pela onda de violência que atingiu o país no final de Abril, quando este anunciou que se candidataria a um terceiro mandato como líder do Burundi.
A horas do desfecho político destas eleições, a violência repete-se. Ao longo da noite de segunda para esta terça-feira ouviram-se várias explosões e tiros de armas automáticas nas ruas da capital do país. Morreram pelo menos duas pessoas durante a noite e, segundo a BBC e a Al-Jazira, os confrontos prosseguiam nesta manhã.
Apesar da meses de contestação, o nome de Nkurunziza está nos boletins de voto distribuídos nesta terça e poucos duvidam de que ele sairá vencedor. Oposição e a comunidade internacional, incluindo a União Africana e a Organização das Nações Unidas (ONU), dizem que a candidatura de Nkurunziza viola a Constituição do país, que limita o Presidente a dois mandatos consecutivos.
Mas Nkurunziza e os seus aliados dizem que o seu primeiro mandato não conta, uma vez que a eleição foi decidida no Parlamento, por voto dos deputados e não pelos da população. O Tribunal Constitucional do Burundi concordou com esta interpretação e permitiu que Nkurunziza, antigo guerrilheiro na guerra civil, pela maioria Hutu, regressasse às urnas.
Cerca de 100 pessoas morreram nos últimos três meses de confrontos e mais de 150 mil fugiram do país para os vizinhos República Democrática do Congo, Ruanda, Tanzânia e Uganda. Receiam que estas eleições provoquem uma nova guerra civil. Tutsis e Hutus combateram no Burundi entre 1996 e 2005 num conflito que terá matado mais de 300 mil pessoas.
A poucas horas da abertura das urnas, Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, apelou a que os responsáveis do Burundi “tudo façam para assegurarem a segurança e o voto pacífico”. Num comunicado lido pelo seu porta-voz e citado pela AFP, Ban Ki-moon pede ainda que “todos os grupos se abstenham de quaisquer actos de violência que comprometam a estabilidade do Burundi e da região.”
Mas o país tem já em mãos os ingredientes para uma nova guerra civil. Em meados de Maio, um grupo de generais opositores a Nkurunziza tentou um golpe de Estado militar. O Governo conseguiu travá-lo, mas os generais em exílio reivindicam agora uma revolta armada que começou já no norte do país, onde se contaram já várias batalhas entre rebeldes e exército.
“Estão em jogo todos os elementos para um conflito [no Burundi]”, escreveu no final de Maio o International Crisis Group (ICG), uma organização internacional que monitoriza conflitos armados em todo o mundo e que acredita que as eleições desta terça-feira estão já decididas. “Pese ainda um pluralismo de fachada, trata-se de uma eleição com um candidato apenas para a qual os burundianos já conhecem o resultado”, diz à AFP Thierry Vircoulon, investigador do ICG.