As "perseguições constantes" contra activistas iranianos já não passam na TV

Human Rights Watch cita activistas que foram detidos após os protestos de 2009.

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Um apoiante do candidato moderado às eleições presidenciais de 2009, Mir-Hossein Mousavi Reuters/Stringer

Em Junho de 2009, o jovem iraniano Shahram Bolouri saía às ruas de Teerão para documentar as manifestações que se seguiram à vitória de Mahmoud Ahmadinejad nas eleições presidenciais. Tirava fotografias e fazia vídeos, que depois fornecia a jornais e estações de televisão.

Dez dias depois do início das manifestações – motivadas por acusações de fraude eleitoral –, Bolouri, de 27 anos, era detido e encaminhado para a prisão de Evin, em Teerão, onde passou os oito meses seguintes, um mês e meio em isolamento. "A minha cela [na secção 240] media 2,5 metros por um metro. Tinha uma sanita e não tinha janelas. Os guardas vinham muitas vezes ordenar-me que me levantasse, que me sentasse e que executasse tarefas bizarras."

Shahram Bolouri é um dos iranianos no exílio cujos testemunhos foram recolhidos pela organização não-governamental Human Rights Watch, que divulgou hoje um relatório sobre as "perseguições promovidas pelas autoridades iranianas" após os protestos de 2009.

"Três anos e meio depois de as forças governamentais terem reprimido com brutalidade as manifestações contra o Governo, na sua grande maioria pacíficas, centenas de activistas têm procurado refúgio temporário e um futuro incerto na Turquia e no Curdistão iraquiano, como resultado das perseguições e detenções no seu país", lê-se no comunicado da organização.

Há testemunhos de activistas dos direitos humanos, de jornalistas, de bloggers e de advogados. Alguns deles "nunca tinham sido politicamente activos" antes dos protestos de 2009, garante a Human Rights Watch.

Um dos advogados entrevistados pela organização é Mohammad Oliyaeifard. Foi detido em Fevereiro de 2010, acusado e condenado em tribunal por "propaganda contra a República Islâmica". Passou um ano na prisão de Evin, na secção 350. O seu crime foi ter falado publicamente, numa entrevista concedida à Voz da América, contra a condenação à morte de um dos seus clientes, Behnoud Shojaee.

No seu testemunho, o advogado – um dos 42 acusados pelas autoridades iranianas desde 2009, segundo a Human Rights Watch – denuncia o "aumento das pressões" no país nos últimos anos sobre a classe, com o objectivo de "a silenciar e impedir uma representação efectiva dos seus clientes". Segundo o relatório da organização não-governamental, "para além da [acusação de] propaganda contra o Estado, as autoridades têm acusado cada vez mais advogados de defesa por "publicação de mentiras para criar ansiedade pública" e difamação".

Realidade mais escondida
O director adjunto da Human Rights Watch para o Médio Oriente, Joe Stork, não tem dúvidas em afirmar que "as perseguições pós-2009 têm afectado profundamente a sociedade civil iraniana". "As imagens de agentes da polícia a baterem sem piedade em manifestantes podem ter desaparecido das televisões e dos monitores dos computadores, mas muitos activistas iranianos continuam a ter de fazer a dolorosa escolha de abandonar as suas casas e as suas famílias", afirma o responsável, citado no comunicado da organização não-governamental.

Segundo os dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o número de activistas iranianos que pediram asilo no estrangeiro "aumentou visivelmente" em apenas dois anos, entre 2009 e 2011 – de 11.537 para 18.128.

O relatório da Human Rights Watch, intitulado Por que é que eles saíram: histórias de activistas iranianos no exílio, traça um cenário de constantes perseguições e falta de escrutínio. "Nenhuma organização de direitos humanos independente consegue trabalhar abertamente no país no actual clima político. Muitos dos mais proeminentes defensores dos direitos humanos e jornalistas estão na prisão ou no exílio e outros activistas são sujeitos a perseguições constantes e detenções arbitrárias." Mas a organização salienta que "as pressões sobre a sociedade civil" começaram "muito antes de 2009".

Rebin Rahmani, um activista dos direitos do povo curdo, foi detido pela primeira vez em Novembro de 2006 e sujeito a "vários interrogatórios acompanhados de tortura física e psicológica". Foi condenado a cinco anos de prisão por "actos contra a segurança nacional" e "propaganda contra o Estado". De acordo com a Human Rights Watch, o seu julgamento não durou mais do que 15 minutos e Rahmani não teve direito a ser defendido por um advogado.

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