Como o Irão construiu um arranha-céus em Nova Iorque e o escondeu durante décadas

A Justiça deu razão ao Governo e luz verde para a apreensão do prédio no coração de Nova Iorque e no centro de uma batalha jurídica que envolve o Irão. Proprietários do prédio vão recorrer da decisão.

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AFP

Ficou conhecido como o Piaget Building, porque este prédio de 36 andares albergou em tempos os escritórios da célebre marca de joalharia. Foi construído no coração de Manhattan, perto do Rockefeller Center em plena 5.ª Avenida, nos anos 1970 pela Fundação Pahlavi do Xá do Irão. E passou a ser propriedade do regime islâmico quando este derrubou o Xá na Revolução Islâmica de 1979, que levou ao corte das relações diplomáticas entre os dois países.

O prédio permaneceu no centro de Nova Iorque, vencendo os sobressaltos da História. E há cinco anos o Governo dos Estados Unidos iniciou uma batalha jurídica para ficar com a sua posse. O processo por violação das sanções (que os Estados Unidos impuseram ao Irão) e quebra das leis que proíbem a lavagem de dinheiro visava a Fundação Alavi e a Corporação Assa, os proprietários do edifício depois da queda do Xá, com ligações ao regime de Teerão.

Esta terça-feira, o caso quase ficou encerrado quando a juíza federal deu razão ao Governo e luz verde para a apreensão do edifício, cujo valor ronda os 700 milhões de dólares. Katherine Forrest deu como provada a acusação do procurador de que o o embargo imposto pelos EUA, que proíbe todo o tipo de relações comerciais e financeiras com o Irão, foi violado com as transferências secretas de rendas e rendimentos relativos ao edifício para o Bank Melli do Irão, banco comercial detido pelo Estado.

A Fundação Alavi e a Corporação Assa vão recorrer da decisão. "Estamos obviamente desapontados com a decisão do tribunal", lê-se num comunicado no site da Fundação Alavi, que considera o desfecho "parcial" e o julgamento "sumário". "Estivemos a rever o caso e discordamos da análise dos factos e da lei feita pelo tribunal."

O Departamento da Justiça norte-americano (Ministério Público) declara em comunicado que o pronunciamento da Justiça abre caminho àquele que poderá ser “o maior confisco de sempre relacionado com terrorismo”. O procurador federal de Manhattan congratulou-se pelo facto de a Justiça determinar que os proprietários do arranha-céus serviam de empresa fachada do Bank Melli do Irão e anunciou que o dinheiro da venda do imóvel, uma vez na posse no Governo dos Estados, reverteria em benefício das vítimas de acções de terrorismo promovido pelo Irão (como a tomada de reféns na embaixada dos EUA em Teerão em Novembro de 1979).
 
 

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