Árabes e israelitas divergem nas causas da morte de ministro palestiniano

Ziad Abu Ein morreu depois de ter sido agarrado por soldados israelitas que tentavam dispersar uma manifestação contra a anexação de terrenos pelo Governo de Telavive.

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Milhares de palestinianos participaram nas cerimónias fúnebres em Ramallah AFP/AHMAD GHARABLI

No dia em que Ziad Abu Ein, o ministro da Autoridade Palestiniana responsável pelo dossier dos colonatos e do muro de separação com Israel, que sucumbiu após confrontos com tropas israelitas, foi a enterrar na Cisjordânia, dirigentes árabes e israelitas apresentaram explicações desencontradas para a causa da sua morte. “Foi morto a sangue-frio”, acusou o porta-voz palestiniano, Saeb Erekat. Tratou-se de uma fatalidade, contrapôs o ministro israelita da Saúde.

Segundo Erekat, o principal negociador palestiniano, não houve nada de natural, nem nenhuma condição física que justificasse a morte de Ziad Abu Ein, de 55 anos. O ministro morreu na sequência dos golpes aplicados sobre o diafragma e os pulmões pelos soldados israelitas, adiantou, com base no exame de uma equipa de médicos legistas palestinianos, jordanos e israelitas, que também terão verificado lesões provocadas pela inalação de gás lacrimogéneo.

Essa versão foi prontamente desmentida pelo Governo de Israel, que apresentou as conclusões preliminares de um relatório médico-legal que apontava a existência de uma doença cardíaca. Segundo esse documento, o óbito terá resultado de um bloqueio da artéria coronária, provocado por uma hemorragia. Uma situação de stress extremo poderá ter originado a hemorragia, estima

O director do complexo hospitalar de Ramallah, para onde Ziad Abu Ein foi transportado, disse à CNN que tinha “99,99% de certeza” de que o ministro palestiniano não sofrera um ataque cardíaco, como o relatório citado pelo Governo de Telavive sugere. De acordo com Ahmed Bitawi, a causa da morte foi asfixia: Abu Ein terá sufocado no seu próprio vómito por causa da inalação de gás.

O ministro da Saúde israelita garantiu que as autoridades israelitas abriram imediatamente um inquérito e que o incidente – que aconteceu quando Ziad Abu Ein participava numa plantação de oliveiras na aldeia de Turmusaya, perto de Ramallah, no âmbito da celebração do dia internacional dos direitos humanos – será cuidadosamente investigado. O evento ficou marcado por um protesto contra a anexação de terrenos pelo Governo de Telavive, e também pela actuação musculada da guarda fronteiriça, depois de uma escaramuça entre um dos manifestantes e um soldado israelita.

Imagens entretanto divulgadas mostram Ziad Abu Ein a ser empurrado, agarrado pelo pescoço por um soldado israelita. Pouco depois, aparece prostrado no chão; testemunhas citadas pela CNN disseram que o ministro foi agredido com uma coronhada de espingarda. As Forças de Defesa de Israel admitiram o uso de meios antimotim para dispersar os manifestantes, e o general Yoav Mordechai informou que todos os soldados presentes no local seriam interrogados – e prometeu um pedido de desculpas se o inquérito concluísse ter existido algum “erro” na sua actuação.

Milhares de pessoas acompanharam o cortejo fúnebre de Ziad Abu Ein, esta quinta-feira em Ramallah. O Presidente Mahmoud Abbas decretou três dias de luto, e o ministro foi enterrado com honras militares. Para além da salva de 21 tiros que a ocasião prevê, ouviram-se muitos mais disparos – sinal da tensão que se vive na região. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon pediu que os dois lados “evitassem a escalada” e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, pediu à Autoridade Palestiniana que “agisse responsavelmente” e acalmasse a situação.

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