Ao trocarem prisioneiros, Washington e Havana trocaram símbolos

Os dois países libertaram presos que eram acusados de espionagem.

Alan Gross estava preso em Cuba há cinco anos
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Alan Gross estava preso em Cuba há cinco anos Kevin Lamarque/REUTERS
Os "Cinco de Cuba", num cartaz em Havana
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Os "Cinco de Cuba", num cartaz em Havana Enrique De La Osa/REUTERS

Mais do que uma troca de prisioneiros, houve uma troca de símbolos entre Cuba e os Estados Unidos para marcar o anúncio do restabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países. O trabalhador humanitário Alan Gross e os três cubanos acusados de espionagem tinham-se tornado cavalos de batalha na guerra ideológica entre os dois países.

Mas houve lugar também para surpresas, como a libertação de um outro cidadão cubano, informador dos serviços secretos norte-americanos, cuja identidade não foi revelada, mas que estava preso há 20 anos e é um verdadeiro herói para os espiões americanos: “Forneceu uma ajuda fundamental para identificar e travar vários operacionais da espionagem cubana nos EUA, que levou a uma série de condenações”, afirmou James Clapper, director nacional dos serviços secretos americanos.

Em causa está a condenação de Ana Belén Montes, ex-analista dos serviços de espionagem, condenada em 1993 por passar informações a Cuba, e pelo ex-funcionário do Departamento de Estado Walter Myers e a sua mulher, Gwendolyn Myers, detidos em 2009.

Já Gerardo Hernández, Antonio Guerrero e Ramón Labañino (também conhecido como Luis Medina, um nome falso) eram nomes tão conhecidos em Cuba que bastava designá-los pelo primeiro nome. Faziam parte do grupo dos “Cinco Cubanos”, presos em 1998 em Miami e condenados por espionagem em 2001. Os seus rostos estão espalhados por todo o lado em Havana, para que ninguém se esquecesse deles. Estavam presos injustamente, de acordo com o Comité Internacional para a Liberdade dos 5 Cubanos, que fazia uma ampla companha na Internet e no Facebook.

Dois tinham já sido libertados pelos EUA, mas os três restantes cumpriam penas pesadas, acima de 20 anos de prisão. Gerardo Hernández, tido como o líder do grupo e considerado culpado de conspirar para cometer homicídio, boicotando dois aviões usados por um grupo de exilados cubanos anticastristas, foi condenado a duas penas perpétuas.

A concentrar todas as atenções esteve Alan Gross, o norte-americano de 65 anos que estava preso em Cuba há cinco anos e cuja saúde piorou muito durante o seu cativeiro: perdeu 50kg, parte da visão do olho direito, e sofria de dores nas costas e nas pernas.

Trabalhava para uma empresa que tinha um contrato com a USAid, a agência norte-americana para o desenvolvimento internacional, para distribuir computadores e equipamentos de telecomunicações por satélite junto da comunidade judaica em Cuba – ele próprio é de religião judaica. Mas foi preso em Dezembro de 2009, e condenado em 2011 a 15 anos de prisão, por actos contra a independência e a integridade do Estado cubano e por participação em actos subversivos.  

O caso de Gross tinha-se tornado dramático – tinha chegado a ameaçar suicidar-se.

Mas apesar de se ter tornado um peão na guerra fria entre Havana e Washington, o seu ressentimento não é contra os cubanos. “Quero expressar o meu maior respeito e admiração pelas pessoas de Cuba. De forma alguma os cubanos comuns são responsáveis [pela minha prisão]. Dói-me ver como são tratados pelos dois governos [EUA e Cuba]”, afirmou.

Nestas negociações, a diplomacia do Vaticano teve um papel fundamental – como costuma ter, aliás, quando há esforços para a libertação de presos políticos cubanos. Sem que se saiba mais pormenores, tanto Barack Obama como Raúl Castro, aliás, agradeceram ao Papa Francisco nos seus discursos.

 

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