Antigo "número dois" do PP madrileno detido em megaoperação contra corrupção

Foram detidas 51 pessoas na investigação sobre uma "rede de corrupção municipal". Ex-conselheiro de Esperanza Aguirre é suspeito de receber suborno de construtores quando foi autarca.

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Francisco Granados foi conselheiro autonómico de Aguirre entre 2003 e 2011 Jorge Guerrero/AFP

O antigo "número dois" da Comunidade Autónoma de Madrid, Francisco Granados, está entre os detidos numa vasta operação desencadeada nesta segunda-feira pela polícia espanhola contra uma alegada rede de corrupção que envolve construtores civis e responsáveis de autarquias em quatro regiões do país.

Granados, que foi secretário-geral do Partido Popular em Madrid e conselheiro em sucessivas pastas da ex-presidente madrilena Esperanza Aguirre até 2011, abandonou em Fevereiro o lugar de senador, dias depois de o jornal El Mundo ter noticiado que possuía uma conta bancária na Suíça onde depositara 1,5 milhões de euros ao longo de anos.

O alerta foi dado pelas autoridades suíças depois de, em 2012, o político espanhol ter tentado levantar, de uma só vez, o montante que tinha depositado no banco BNP Paribas. Foi então aberta uma investigação para apurar a origem do dinheiro, que terá começado a ser depositado em 1999, ano em que Granados foi eleito presidente da Câmara de Valdemoro, cidade de 72 mil habitantes a sul de Madrid. Segundo o jornal El País, o juiz da Audiência Nacional Eloy Velasco, que lidera as investigações, suspeita que o então autarca tenha recebido o dinheiro a troco de adjudicações de obras e alterações fraudulentas aos planos de ordenamento territorial.

Um caso que, revela agora o departamento anticorrupção da procuradoria espanhola, fazia parte de uma trama mais vasta.

Segundo um comunicado divulgado nesta segunda-feira, a operação resultou na detenção de 51 pessoas em quatro comunidades autónomas, incluindo seis autarcas da região de Madrid, o presidente da administração da província de Leão e vários empresário. Em causa está, adianta a nota citada pelo El País, “uma rede de corrupção municipal e regional infiltrada nas autarquias e autonomias, principalmente na província e nas comunidades autónomas de Madrid, Múrcia, Leão e Valência”, através da qual os empresários implicados pagavam “comissões ilegais” a funcionários e dirigentes municipais. Em troca conseguiram a adjudicação de obras num montante que terá atingido os 250 milhões de euros em apenas dois anos. O Ministério Público assegura que a investigação continua aberta e não descarta a hipótese de efectuar mais detenções.

Segundo o El Mundo, a operação levou à realização de mais de 250 buscas em residências, edifícios municipais e empresas. Foram também efectuados 400 pedidos para o levantamento de sigilo bancários dos visados, sobre quem recaem suspeitas dos crimes de branqueamento de capitais, falsificação de documentos, suborno, prevaricação, desvio de fundos e fraude contra a administração pública. Em Valdemoro, que Granados liderou até 2003, foi detido o actual presidente da Câmara e a sede da autarquia foi encerrada.

Sobre Granados pairavam há vários anos rumores de corrupção, escreve o El País, lembrando negócios imobiliários pouco claros, a construção de uma luxuosa vivenda em Valdemoro e também a referência ao seu nome no mega escândalo de corrupção Gurtel.

Mas aquele que foi o braço direito da todo-poderosa líder do PP madrileno — foi Aguirre quem, em 2003, o catapultou da pequena autarquia para o centro de poder na capital — começou a cair em desgraça em 2011, precisamente quando ela o preteriu em favor do actual presidente da Comunidade, Ignacio González. Os dois homens há muito que eram rivais internos e, em 2009, o El País noticiou que Granados seria o organizador de uma rede de espionagem dentro do PP e que teria em González um dos seus alvos — uma suspeita nunca provada nos tribunais.

Este é o último de uma avalancha de escândalos de corrupção a atingir políticos em Espanha, mas fontes judiciais disseram àquele jornal que, ao contrário de outros casos recentes, não estavam em causa esquemas de financiamento ilegal de partidos, mas tão só dinheiro recebido por dirigentes em benefício próprio. O PP anunciou entretanto a suspensão de Granados e de todos os eleitos do partido visados pelas investigações.

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