Andrew Pochter não chegou a ver o Egipto apaziguado e o Médio Oriente em paz

Egipto prepara-se este domingo para uma jornada de manifestações contra o Presidente Morsi. Temem-se protestos violentos como aquele em que morreu estudante americano na sexta-feira em Alexandria.

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Andrew Pochter numa fotografia disponibilizada pela família Reuters

Andrew Driscoll Pochter tinha 21 anos. Estava há um mês no Egipto para dar aulas de inglês a crianças do 1.º ciclo e aperfeiçoar o seu árabe. O programa duraria todo o Verão. Alexandria tinha sido o seu destino. Foi a cidade onde morreu esfaqueado na sexta-feira, nos distúrbios que mataram duas outras pessoas nessa noite, na violência que antecedeu a alta tensão deste fim-de-semana entre apoiantes e críticos do Presidente Mohamed Morsi que completa, este domingo, o primeiro aniversário da tomada de posse.

Recolhida na sua casa em Chevy Chase, Maryland, perto de Washington D.C., a família de Andrew Pochter não falou à imprensa mas numa declaração escrita deu a conhecer um pouco mais sobre ele: “Foi para o Egipto porque tinha um profundo interesse pelo Médio Oriente, onde planeava viver e trabalhar em busca da paz e da compreensão.” Pai, mãe e irmã acrescentam, nesta declaração, que pelo que lhes foi dado saber, Andrew assistia ao protesto, não participando nele, quando foi esfaqueado por um manifestante.

Pelo menos duas outras pessoas morreram nessa noite no Egipto em confrontos entre apoiantes e detractores do regime elevando para seis o número de mortes durante a semana de preparativos para um protesto este domingo nas ruas do Cairo e Alexandria, a marcar o primeiro aniversário da tomada de posse do Presidente Mohamed Morsi, eleito nas primeiras eleições após a queda de Hosni Mubarak, pela Irmandade Muçulmana, e que os sectores seculares da sociedade egípcia acusam de querer islamizar o país, através da Constituição.

A Praça Tahir no Cairo será o centro das manifestações a pedir a demissão de Morsi. Também se esperam manifestações de apoio ao Presidente. No "Dia do Julgamento", como titulou um jornal egípcio, há receio de novas ondas de violência.

Não é certo se Andrew Pochter tinha ou não uma câmara de filmar ou fotografar com que a qual registaria os distúrbios na rua na sexta-feira, como referiram alguns jornais egípicios retomados pela imprensa americana. Essa prática é agora vista com bastante hostilidade, disse ao New York Times Tim Montrief, estudante da Universidade de Michigan, que passou algum tempo em Alexandria e no Cairo e diz que, nos últimos tempos, se notava mais a tensão na cidade de Alexandria.

Os amigos lembram-se sobretudo do entusiasmo que irradiava antes de partir para o Egipto e dos projectos que tinha para aprofundar os conhecimentos do árabe e do Médio Oriente, região pela qual começava a desenvolver um verdadeiro fascínio.

No dia em que partiu para o Egipto, a 28 de Maio, Andrew Pochter estava exuberante, diz a amiga Zoe Lyon. E embora tivesse consciência da tensão religiosa e política no país, não tinha medo. “Ele sabia da possibilidade de haver distúrbios, mas nunca pensou que fosse apanhado neles”, afirma ao New York Times.

Paixão pelo Médio Oriente
Este ano, o estudante tinha frequentado um semestre em Amã na Jordânia no quadro de um programa de intercâmbio da AMIDEAST, uma organização que desenvolve actividades no Médio Oriente e Norte de África. E em 2011, passara uma temporada com uma família em Marrocos, quando a Primavera Árabe estava em pleno noutros países. Foi neste país que despertara para esse seu interesse especial por esta região.

“Voltou com uma paixão pelo Médio Oriente”, disse à AP Meryn Chimes, da Universidade de Nova Iorque, que diz ter recebido uma mensagem do amigo pelo Facebook na passada terça-feira. Nela, ele não mencionava a tensão política, preferindo falar dos seus alunos, de quem dizia que se esforçavam muito para aprender inglês apesar das dificuldades. “Andrew via o melhor em todas as pessoas”, acrescentou Meryn Chimes ao New York Times. E à AP: "Ele queria realmente alargar os horizontes das pessoas, especialmente na América.”

Andrew Pochter foi criado numa família cristã e judia, acrescenta a CNN, e interessava-se por estudos religiosos e de política internacional. Além de ser membro da Associação dos Estudantes do Médio Oriente, era um elemento activo no centro judaico de Hillel House, praticava râguebi e gostava de poesia especialmente da dos países árabes. “Andrew não via o mundo como nações em separado mas como um conjunto de culturas vibrantes”, cita a CNN a partir de uma declaração do Kenyon College.

“Era um dos raros jovens que vivia aquilo em que acreditava”, disse a esta estação Marc Bragin, capelão do Kenyon College, no Ohio, para onde Andrew Pochter voltaria em Setembro para prosseguir os estudos universitários. “Acreditava que todos tinham uma voz e que uma pessoa não devia ser excluída por pensar de forma diferente de outra.”
 
 

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