Amnistia acusa Hamas de torturar e matar palestinianos em Gaza

O movimento islamista levou a cabo vários absusos, incluindo execuções extrajudiciais, aproveitando a ofensiva israelita de 2014 para ajustar contas.

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A execução de seis pessoas a 22 de Agosto foi a primeira execução pública em Gaza desde 1990 Reuters

O movimento islamista Hamas levou a cabo uma campanha brutal contra palestinianos acusados de colaborar com Israel durante a ofensiva militar de 2014, denuncia a associação de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional.

A organização fala da execução extrajudicial de pelo menos 23 palestinianos e a detenção e tortura de dezenas de outros pelo Hamas, no poder na Faixa de Gaza desde 2006. Entre eles estavam membros da rival Fatah, a facção do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, que controla a Cisjordânia.

“É absolutamente chocante que enquanto as forças israelitas infligiam morte e destruição em massa na Faixa de Gaza, o Hamas tenha aproveitado a oportunidade para ajustar contas, levando a cabo uma série de assassínios e outros abusos graves”, comentou Philip Luther, director para o Médio Oriente e Norte de África da organização.

Ninguém foi chamado a responder pelos abusos, o que significa que as autoridades oficiais terão ordenado ou autorizado estes crimes, diz também a Amnistia.

A maioria dos casos ocorridos durante os 50 dias de guerra foram apresentados pelo Hamas como sendo de pessoas que passaram informação a Israel. Mas a Amnistia diz que pelo menos 16 dos executados já estavam presos pelo Hamas antes de o conflito ter começado. Oito dos detidos estavam ainda a ser julgados na altura das execuções, seis outros aguardavam decisões depois de terem recorrido contra a decisão. Dois outros cumpriam penas de prisão.

Um dos executados a meio do seu julgamento foi Ibrahim Dabour. “Ele foi executado na sexta-feira às 9h30”, contou um dos irmãos à Amnistia. “O meu irmão recebeu um sms dizendo  ‘O julgamento contra Ibrahim Dabour foi concluído de acordo com a sharia por decisão do tribunal revolucionário’.” Mesmo que tivesse sido condenado à morte, continuou o irmão, “deveria ter havido um processo de recurso e outras alternativas. O que fizeram não tem nada a ver com justiça”, disse.

“Em vez de fazer justiça, as autoridades e a liderança do Hamas encorajaram e facilitaram estes crimes contra indivíduos sem poder”, acusou Luther. “Estas acções arrepiantes, algumas das quais são crimes de guerra, tiveram como objectivo conseguir vingança e espalhar o medo pela Faixa de Gaza.”

Um dos casos mencionados pela Amnistia Internacional é o de Atta Najjar, antigo polícia quando Gaza era governada pela Autoridade Palestiniana. Cumpria, desde 2009, uma pena por colaborar com Israel. A 22 de Agosto de 2014, foi executado. O relato da retirada da morgue feito pelo irmão é um catálogo de horrores que mostram sinais de tortura.

Essa execução de 22 de Agosto foi a primeira execução pública desde a década de 1990 na Faixa de Gaza. Nesse dia, seis homens foram executados em frente a uma mesquita em frente a centenas de pessoas – incluindo crianças. Com sacos enfiados na cabeça, em fila numa parede, cada um foi morto com uma bala na cabeça antes de receberem uma rajada de metralhadora AK-47. 

Alguns dos acusados de terem passado informação ao inimigo dizem que foram torturados para “confessarem”. Pelo menos três pessoas detidas durante o conflito e acusadas de colaboracionismo morreram durante a detenção. 

O conflito em Gaza deixou mais de dois mil mortos entre os palestinianos, incluindo mais de 1400 civis. Israel teve 67 baixas militares e morreram seis civis. A Amnistia Internacional tem criticado duramente ambos os lados por crimes de guerra cometidos durante a guerra de 2014.

 

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