Al-Shabaab atacam base da União Africana no Sul da Somália

Radicais reivindicam morte de dezenas de soldados quenianos e garantem controlar a unidade. Contingente africano assegura que combates continuam

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A UNião Africana tem actualmente 22 mil militares na Somália Mohamed Abdiwahab/AFP

As milícias Al-Shabaab atacaram uma base das forças da União Africana (UA) no Sul da Somália, anunciando ter assumido o controlo do local após combates nos quais terão morrido dezenas de soldados quenianos. É o terceiro ataque em seis meses contra o contingente africano, alvo principal da estratégia de guerrilha adoptada nos últimos anos pelos extremistas islâmicos.

A missão da União Africana na Somália (Amisom) confirmou o ataque à base de El-Ade, 550 quilómetros a Oeste da capital, Mogadíscio, não muito longe da fronteira com o Quénia, mas assegurou que os combates ainda decorrem. Já um porta-voz do Exército queniano, que tem 3600 militares no país vizinho, afirma que o alvo dos terroristas foi um quartel das forças somalis que integram o embrião do que se espera venha a ser o Exército nacional. “A base somali foi invadida e as tropas quenianas contra-atacaram para os apoiar. O número de baixas dos dois lados ainda é desconhecido”, adianta um comunicado divulgado esta sexta-feira.

El-Ade situa-se numa zona remota e não é possível verificar informações de forma independente. As agências de notícias sublinham, no entanto, que as Al-Shabaab, grupo com ligações à rede terrorista Al-Qaeda, têm por hábito empolar os resultados dos seus ataques, na mesma medida em que o Exército queniano subestima frequentemente o impacto das acções dos radicais.

Segundo o que foi possível apurar, um bombista-suicida fez-se explodir junto ao portão da base, abrindo uma brecha que permitiu aos extremistas entrar no perímetro. “Os mujahedin efectuaram nesta manhã uma operação bem-sucedida contra a base de El-Ade e mataram muitos soldados cristãos do Quénia. Contámos 63 corpos espalhados pela base”, anunciou Abdulaziz Abu Musab, porta-voz do grupo radical, assegurando que os seus homens controlam também a cidade contígua.

Hussein Adam, líder tribal da zona, contou à AFP ter ouvido uma “forte explosão, logo seguida de tiros”, que só terminaram quando “os combatentes das Al-Shabaab se apoderaram do campo dos soldados quenianos”. Um outro residente disse à BBC ter visto militares quenianos a fugir da base, que está em poder dos radicais. “Podemos ver veículos militares a arder e soldados mortos por todo o lado. Não houve baixas civis, mas as pessoas fugiram daqui”.

A missão da União Africana, que conta actualmente com 22 mil soldados, enfrenta há quase uma década os radicais islâmicos que, mesmo depois de em 2011 terem perdido a capital e grande parte dos seus bastiões, continuam a dominar vastas zonas rurais no Sul do país. É daí que lançam frequentes ataques contra os militares estrangeiros, parte da estratégia de guerrilha que inclui também inúmeros atentados cometidos em Mogadíscio e noutras cidades.

No final de Junho do ano passado, os radicais atacaram uma base das forças do Burundi e, dias depois, um campo onde estavam estacionados militares do Uganda, ambos no Sul do país, provocando dezenas de mortos, recorda a AFP. Superior em homens e poder de fogo, a Amisom reconquistou os dois quartéis em poucos dias, mas estas ofensivas mostram que as Al-Shabaab continuam a ser um inimigo temível.

Uma ameaça para a Somália, onde a insegurança persistente baralha os planos da comunidade internacional para realizar ainda este ano eleições por sufrágio universal – as primeiras em 40 anos num país sem Estado central e em guerra civil desde 1991. Mas os radicais são também cada vez mais um perigo para as nações vizinhas, a começar pelo Quénia, palco nos últimos anos de ataques e atentados que fizeram centenas de mortos e agravaram a desconfiança contra a minoria muçulmana do país.  

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