Al-Qaeda do Iémen reivindica ataque ao Charlie Hebdo

“Recrutámos heróis e eles agiram”, declara um dirigente num vídeo colocado nesta quarta-feira na Internet.

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Nasser Ben Ali al-Anassi dr

Uma semana após o massacre e no mesmo dia em que o Charlie Hebdo volta às bancas, a Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA) reivindicou o ataque contra o jornal satírico francês. Um dirigente da organização fala “numa operação destinada a vingar o profeta” Maomé que terá sido ordenada pelo próprio Ayman al-Zawahiri, que sucedeu a Osama bin Laden na liderança da rede terrorista.

“Recrutámos heróis e eles agiram, eles prometeram e passaram à acção para grande satisfação dos muçulmanos”, afirma Nasser Ben Ali al-Anassi, num vídeo de 11 minutos divulgado por um site islamista e que é a primeira reivindicação oficial do ataque que matou 12 pessoas, oito das quais jornalistas e colaboradores do Charlie.

Por duas vezes, após o ataque, Chérif e Saïd Kouachi disseram ser membros do AQPA e os serviços secretos franceses dizem ter informações de que pelo menos Saïd, o mais velho dos irmãos, esteve no Iémen, base de operações daquele que é considerado pelos Estados Unidos como o braço mais organizado e activo da Al-Qaeda. Até agora, o Governo francês dizia não ter certezas de que os ataques tivessem sido coordenados a partir do estrangeiro.

“Queremos afirmar perante a comunidade muçulmana que fomos nós que escolhemos o alvo, financiámos a operação e recrutámos o seu chefe”, afirma agora Al-Anassi, acrescentando que o ataque “foi desencadeada por ordem do emir general Ayman al-Zawahiri, respeitando a vontade e em conformidade com a vontade de Osama bin Laden”, o fundador da Al-Qaeda morto pelas forças especiais norte-americanas no Paquistão, em 2011.

O dirigente afirma que “a operação constituiu uma grande satisfação para os muçulmanos” e envia “uma mensagem forte a todos os que ousam atacar o que é sagrado” para eles. O ataque foi, no entanto, repudiado por todos os países de maioria muçulmana e pelas grandes associações que representam as várias comunidades nos países ocidentais, muitas das quais estiveram presentes nas manifestações de repúdio organizadas nos últimos dias.

No vídeo, Anassi elogia ainda Ahmedy Coulibaly, o atacante que foi morto sexta-feira depois de ter matado uma agente da polícia e quatro reféns durante um sequestro numa mercearia judaica de Paris. Num contacto telefónico com uma televisão e num vídeo divulgado depois, o extremista disse ser membro do Estado Islâmico, organização nascida no seio da Al-Qaeda mas com a qual agora disputa a liderança no seio do movimento jihadista. Afirmou, porém, ter agido em coordenação com os dois irmãos Kouachi, com quem partilhava o mesmo mentor. Ignorando rivalidades, Anassi afirma que, “com a bênção de Alá, a operação [contra o Charlie Hebdo] coincidiu com a sua”. “Pedimos a Alá que acolha junto de si todos os mártires”, diz o extremista.

O vídeo inclui ainda um aviso aos ocidentais para que “cessem os ataques [ao islão] em nome de uma falsa liberdade” e ameaça lançar novos atentados em França. “Não estareis em segurança enquanto combaterdes Alá, o seu mensageiro e os seus crentes”, afirma Harith al-Nadhari, um líder religioso que integra o AQPA.

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