Almodóvar e Vargas Llosa pedem federalismo em vez de independência

Escritores, advogados, políticos de todas as áreas, economistas, cineastas e académicos assinaram um manifesto pelo federalismo e contra o independentismo.

Entre as centenas de assinaturas do texto divulgado ontem pelo diário El País estão a do realizador Pedro Almodóvar e a do escritor Mario Vargas Llosa.“Várias centenas de intelectuais e de profissionais assinaram na Catalunha um apelo a favor da esquerda e do federalismo, em resposta ao secessionismo crescentemente estimulado” pelo governo catalão e por “outras forças políticas próximas do nacionalismo”, começa o texto.

Os signatários consideram que “os independentistas convertem a sua ideia particular de Espanha em bode expiatório responsável por todos os problemas”, como as grandes dificuldades criadas pela crise económica. O sentimento independentista tem crescido entre os catalães nos últimos anos, mas foi a crise e a ideia promovida pelos líderes regionais de que a região dá mais do que recebe que ajudaram a alimentar a recente insatisfação com Madrid. Artur Mas convocou as eleições antecipadas do próximo dia 25 depois de confirmar que o Governo de Mariano Rajoy se recusava a discutir o seu pacto fiscal, através do qual a Catalunha passaria a gerir os seus próprios impostos – os líderes catalães dizem que o Estado fica a dever todos os anos à região 16,5 mil milhões de euros.

Financiamento mais justo

Segundo os signatários do manifesto, “nem a Catalunha está submetida a um espólio por parte de Espanha nem o comum dos espanhóis alberga sentimentos de menosprezo” em relação à região, asseguram. “A Catalunha suscita afecto, admiração e reconhecimento, entre outras razões porque sem ela, sem a sua língua, sem a sua cultura e sem o seu contributo solidário, não pode entender-se a Espanha democrática.”

O texto apela em seguida a todas as forças democráticas para procurarem um melhor enquadramento institucional para a Catalunha, um financiamento mais justo e uma federalização das actuais autonomias.

Em campanha, Artur Mas voltou ontem a pedir uma “maioria excepcional” para deixar claro perante o Madrid e Bruxelas que há “uma liderança forte” à frente do processo de autodeterminação na Catalunha.

Apoio nas urnas

Até agora, nenhuma sondagem dá ao seu partido, Convergência e União, a maioria absoluta. Os inquéritos mostram que a CiU cresce dos seus actuais 62 lugares (num Parlamento de 135), mas sem chegar aos 68 que o livrariam de ter de negociar pactos com outras formações.

“Eu conduzo este processo até ao fim desde que tenha o povo ao meu lado, e o povo não pode estar só nas manifestações, também tem de estar nas urnas”, disse ainda Mas, numa referência à manifestação soberanista de 11 de Setembro, dia nacional catalão, quando 1,5 milhões de pessoas desfilaram em Barcelona com bandeiras da região e cartazes com slogans independentistas. Se os catalães lhe derem o apoio maioritário, “ninguém, nem os tribunais nem as constituições”, podem parar este processo. “A democracia impõe-se sempre”, concluiu.Apesar da sua posição, os signatários do manifesto dizem que se o sentimento nacional catalão tiver o apoio da maioria, “a convicção democrática obrigaria o resto dos espanhóis a tê-lo em consideração para encontrar uma solução apropriada e respeitadora”.
 
 
 

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