Aliados comprometem-se a tomar "todas as medidas necessárias" para derrotar o Estado Islâmico

Encontro internacional em Paris discutiu papel dos membros da "frente unida" contra jihadistas. França inicia voos sobre o Iraque e Reino Unido admite resgatar reféns, se souber onde eles estão.

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Os Presidentes da França e do Iraque conduziram a conferência internacional em Paris Brendan SMIALOWSKI/AFP

O Presidente da França, François Hollande, considerou o Estado Islâmico instalado na Síria e no Iraque “uma ameaça global que exige uma resposta global”, e apelou à unidade da comunidade internacional para derrotar os jihadistas. “Não há tempo a perder”, vincou.

O Reino Unido foi um dos países que acentuou a sua intenção de desempenhar um “papel preponderante” nas operações contra os islamistas. No domingo, após a divulgação de um novo vídeo do EI com imagens da decapitação de mais um refém raptado na Síria, o britânico David Haines, o primeiro-ministro David Cameron falou na “determinação de ferro” do seu Governo no ataque – as suas palavras antecipavam uma escalada militar, embora com a ressalva de que nenhuma iniciativa envolveria a mobilização de tropas para o estrangeiro.

Em Paris, o ministro da Defesa, Philip Hammond, confirmou que o Reino Unido está preparado para “assumir a liderança” no combate ao EI, e admitiu até uma operação com forças especiais para resgatar os reféns capturados pelos islamistas – incluindo Alan Henning, um britânico de 47 anos que foi ameaçado de morte no último vídeo divulgado pelos radicais. “Se soubéssemos onde eles estão, encararíamos todas as opções. Infelizmente não dispomos dessa informação, pelo que as coisas não são assim tão simples”, admitiu.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, anda há uma semana em contactos para montar uma coligação internacional para lutar contra o EI no Iraque e na Síria: uma “frente unida” de 40 países já confirmou a sua participação na campanha alargada de contraterrorismo que foi delineada pelo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, numa declaração televisiva em que prometeu “degradar, derrotar e por fim destruir” a organização radical sunita. “O poderio militar americano não tem paralelo, mas este combate não pode ser só nosso”, considerou.

Segundo o Presidente do Iraque, Fouad Massoum, que dividiu com Hollande a tarefa de dirigir as conversações em Paris, o país precisa do apoio internacional para poder contra-atacar os islamistas, que aproveitaram a guerra da Síria para apagar a fronteira entre os dois Estados e avançar pelo território iraquiano. “Se a intervenção em apoio do Governo do Iraque tardar, o Estado islâmico poderá vir a ocupar ainda mais território, e tornar-se uma ameaça ainda maior”, sublinhou.

Polémica síria

O plano apresentado por Obama contempla a manutenção dos ataques da aviação norte-americana às posições dos militantes no Iraque, e o possível alargamento da operação aérea aos refúgios do EI em território sírio. A Força Aérea dos EUA já efectuou mais de 150 missões no Iraque, concertadas com as autoridades de Bagdad e do Curdistão. A intervenção na Síria é mais polémica, e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, insistiu em Paris que sem o mandato das Nações Unidas, a iniciativa será ilegal.

Antes do início dos trabalhos, a França informou que os seus aviões começaram a realizar voos de reconhecimento e vigilância sobre o Iraque. No domingo, o primeiro-ministro australiano, Tony Abbot, confirmou a partida de um contingente de 600 soldados e oito jactos do seu país para os Emirados Árabes Unidos, para integrar a campanha internacional e “apoiar as acções de combate contra o EI no Iraque”.

Além destes, vários outros aliados ocidentais e – crucialmente – os países árabes e do Golfo começaram a debater em Paris os diferentes papéis e capacidades a assumir na campanha alargada contra o EI. Fontes diplomáticas norte-americanas, citadas sob anonimato pelo The New York Times, disseram que várias nações árabes (não identificadas) iriam participar na campanha aérea, mas não em missões de combate apesar de “se terem disponibilizado para tal”. Em vez disso, serão responsáveis pelo transporte aéreo, assegurando ainda apoio logístico e de reabastecimento.

Em termos militares, os EUA e aliados comprometeram-se com a disponibilização de armas e outro equipamento em apoio das forças iraquianas (Exército nacional e soldados peshmerga do Curdistão) envolvidas nos confrontos no terreno contra os islamistas – que de acordo com a última avaliação da CIA, poderão já dispor de mais de 30 mil combatentes, milhares dos quais ocidentais.

A estratégia tem também uma vertente política e humanitária, que passa pela colaboração para o fortalecimento do Governo e das instituições no Iraque, e ainda a distribuição de ajuda às populações deslocadas pelo conflito, sobretudo minorias.

O debate sobre o futuro do Iraque não se esgotou em Paris, e prosseguirá no Bahrain, para onde foi marcada uma nova conferência para discutir medidas que permitam travar o financiamento e recrutamento do EI, e ainda em Nova Iorque, durante a realização da Assembleia-Geral das Nações Unidas. O ministro iraquiano dos Negócios Estrangeiros, Ibrahim al-Jaafari, agradeceu os esforços internacionais: “A mensagem que levo daqui é clara: não estamos sozinhos. Se um país for atacado por terroristas, não será abandonado, a comunidade internacional irá unir-se”.

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