Alemanha prevê acolher 300 mil refugiados este ano

Número é menos de um terço dos que chegaram ao país em 2015. Vice-chanceler acusa partido de Merkel de ter subestimado o desafio de integração dos recém-chegados

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O número de chegadas à Alemanha em 2015 terá ficado abaixo dos 1,1 milhões de pessoas inicialmente estimados Christof Stache/AFP

A Alemanha espera receber durante este ano cerca de 300 mil candidatos a asilo, ou seja, menos de um terço do total de refugiados que entraram no país em 2015 – uma redução que reflecte tanto o acordo celebrado entre a União Europeia e a Turquia para reduzir as travessias no Mediterrâneo como o visível incómodo das autoridades perante a crescente contestação à política de acolhimento do Governo de Angela Merkel.

O número foi avançado pelo director do Gabinete Federal para os Migrantes e Refugiados (BAMF) numa entrevista ao jornal Bild am Sonntag e que depressa fez manchetes em toda a imprensa alemã. Frank-Juergen Weise explicou que se chegarem ao país mais de 300 mil pessoas os serviços públicos alemães "terão de passar ao modo de crise", mas afirmou que pelos cálculos actuais o número de chegadas não deverá atingir aquela fasquia.

Weise revelou ainda que o número de chegadas em 2015 terá ficado abaixo dos 1,1 milhões de pessoas inicialmente estimados, explicando que muitas pessoas foram registadas mais do que uma vez e outras deixaram entretanto o país. Admitiu, no entanto, que a integração no mercado de trabalho de todos os refugiados será um processo "longo e oneroso", já que apesar de 70% dos recém-chegados estarem em condições de trabalhar a grande maioria continuará a depender de apoios sociais até conseguir emprego.  

O número de chegadas à Europa caiu drasticamente desde Março, altura em que os líderes europeus fecharam um polémico acordo com Ancara que prevê o reenvio de todos os que tenham atravessado o Mediterrâneo desde essa data – só algumas centenas de migrantes foram efectivamente expulsos, mas os restantes continuam detidos em condições precárias em centros nas ilhas gregas.

Mas nem isso foi suficiente para aliviar a pressão sobre Merkel, que há quase um ano garantiu acolhimento a todos os que fugiam da guerra na Síria e no Iraque, e que redobrou de intensidade depois de dois ataques contra civis em Julho, ambos levados a cabo por candidatos a asilo e reivindicados pelo Estado Islâmico. O clima de desconfiança tem sido aproveitado pelo partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que continua a subir nas sondagens a um ano das eleições federais, deixando sob pressão os partidos da grande coligação encabeçada por Merkel.

Num sinal disso mesmo, Sigmar Gabriel, vice-chanceler e líder dos sociais-democratas, veio neste domingo acusar os conservadores de Merkel, seus aliados no governo, de terem "subestimado" o desafio que representava a integração de um número recorde de migrantes. "Há um limite para a nossa capacidade de integração", disse o secretário-geral do SPD, lembrando que as escolas alemãs têm agora mais 300 mil alunos estrangeiros do que há um ano. Gabriel criticou ainda Merkel por repetir à exaustão o mote "Wir Schaffen das" (Nós conseguimos) quando confrontada com as dificuldades no acolhimento, dizendo que mais do que slogans o governo precisa de planos concretos para a integração dos recém-chegados.

Confirmando a pressão que pesa sobre a chanceler, uma sondagem divulgada neste domingo revela que menos de metade dos inquiridos apoia a sua continuação à frente do Governo após as eleições de 2017, naquele que seria o seu quarto mandato – uma intenção de recandidatura que a própria ainda não confirmou.

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