Alemanha exclui perdão de dívida "clássico" à Grécia

Merkel e Schäuble recusam a hipótese de um corte na dívida nominal da Grécia, mas não fecham a porta a uma reestruturação que, por exemplo, alargue os prazos de pagamento. Ainda assim, dizem, a margem é reduzida.

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Merkel e Schäuble falaram esta quinta-feira sobre a situação grega

Depois do apoio inesperado do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, à inclusão de um alívio da dívida grega num futuro acordo entre a Grécia e os seus parceiros europeus, o tema da renegociação da dívida grega aos seus credores europeus está agora claramente no centro das atenções.

A chanceler alemã, Angela Merkel, reagiu a partir da Bósnia, onde está em visita oficial, declarando: "Para mim, uma reestruturação da dívida clássica está fora de questão, e isso não mudou entre ontem e hoje". 

Merkel relembrou que já em 2012 a questão foi abordada: "Tratámos da questão da sustentabilidade da dívida. Prolongámos as maturidades, e adiámos as obrigações de pagamentos ao FEEF [Fundo Europeu de Estabilidade Financeira] até 2020." No entanto, ao apenas referir um "haircut", ou seja um corte na dívida nominal, a chanceler pode não excluir para já que seja oferecido uma reestruturação mediante, por exemplo, um aumento dos prazos para Atenas reembolsar os seus empréstimos.

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, que participava  numa conferência do banco central alemão em Frankfurt, clarificou a posição alemã, declarando que "os tratados europeus excluem um perdão de dívida", mas que o Governo alemão está pronto "a discutir o espaço para uma reestruturação da dívida". Acrescentou no entanto que "a margem para uma reestruturação da dívida grega é muito pequena". 

O Governo alemão, que enfrenta uma opinião pública e um Parlamento cada vez mais hostil a qualquer apoio suplementar à Grécia, tem sido um dos mais firmes opositores à ideia de um alívio de dívida.

Schäuble explicou que um alívio de dívida à Grécia alteraria pouco a situação do país, já que não melhoraria a sua competitividade. Disse que isso mesmo afirmou o novo ministro das Finanças grego, Euclides Tsakalotos, na reunião do Eurogrupo de terça-feira. "Tsakalotos disse na terça-feira que está convencido que mesmo que haja um alívio completo de dívida teremos os mesmos problemas daqui a três anos, porque a economia grega não é competitiva", disse Schäuble. 

Agora que um eixo Atenas-Washington se parece desenhar sobre a questão do alívio da dívida, depois de o Fundo Monetário Internacional ter publicado uma análise da sustentabilidade da dívida grega em que defendia uma reestruturação, Schäuble fez ainda questão de referir que durante as negociações o FMI lhe pediu para "não ser generoso de mais com a Grécia."

E permitiu-se ainda um momento de humor, gracejando que ofereceu ao secretário do Tesouro americano, Jack Lew, integrar na zona euro Porto Rico, território americano que também está à beira da bancarrota, se os Estados Unidos ficarem com a Grécia. 

O Governo americano tem pressionado os credores europeus para que ofereçam uma reestruturação da dívida grega de modo a facilitar um acordo, e Lew tem multiplicado as chamadas a vários dirigentes europeus, uma interferência que parece ter irritado os que como Berlim se opõem a que essa questão seja discutida para já.

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