Afeganistão entra em campanha eleitoral sob ameaça dos taliban

A 5 de Abril, os afegãos vão às urnas para escolher o sucessor de Karzai entre um grupo de 11 candidatos.

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A ouvir o discurso do candidato Ashraf Ghani SHAH Marai/AFP

Os candidatos às eleições presidenciais no Afeganistão realizaram neste domingo os seus primeiros comícios por ocasião da abertura oficial da campanha eleitoral, que já ficou manchada de sangue mesmo antes de começar: no sábado, dois membros da equipa de Abdullah Abdullah, um dos favoritos à sucessão de Hamid Karzai, foram mortos a tiro.

Foi com um espectáculo de dança acompanhado por um concerto de percussão que milhares de pessoas foram recebidas no comício de Ashraf Ghani, um dos 11 candidatos à presidência do Afeganistão, que vai ficar vago após dois mandatos cumpridos por Karzai.

A reunião política de Ashraf Ghani foi organizada num enorme recinto da capital afegã, que normalmente é reservado para casamentos, e que para esta ocasião foi forrado com cartazes de Ghani, um economista de renome que foi ministro das Finanças de Karzai.

Lá fora, o serviço de segurança do candidato está atento, nervoso e armado até aos dentes: o assasínio de dois membros da equipa de Abdullah Abdullah, abatidos a tiro em plena rua por homens armados no sábado à noite em Herat (oeste), fez temer novos ataques.

“Se eu estou aqui, é para desempenhar um papel nestas eleições”, disse Milad, de 21 anos, em declarações à AFP. “Ashraf Ghani é um homem de bem, que pode conduzir o nosso país em direcção a um futuro melhor.”

Na tribuna, o candidato apresentou o seu programa eleitoral, que tem três prioridades: os jovens, os direitos das mulheres e a luta contra a corrupção, flagelo que mina as instituições afegãs. “A mudança somos nós”, lançou Ghani, recebendo fortes aplausos da plateia.

A algumas centenas de metros, numa outra enorme sala de casamentos, Abdullah Abdullah realizou o seu comício inaugural de campanha, mesmo depois da morte dos seus dois colaboradores.

Nas eleições de 2009 foi ele que ficou em segundo lugar na primeira ronda de votação, mas depois retirou-se da segunda volta, denunciando (tal como inúmeros observadores) fraudes maciças destinadas a garantir a reeleição confortável de Hamid Karzai.

No seu discurso, Abdullah insistiu neste ponto, impondo desde já uma condição: só aceitará o resultado das eleições de 5 de Abril “se estas não estiverem feridas de fraudes”.

Haverá sangue
O assassínio dos colaboradores de Abdullah em Herat, que não foi reivindicado, faz temer a repetição do caos provocado pela violência dos taliban durante as presidenciais de 2009. “Foi um ataque dramático mas previsível”, disse à AFP Waheed Wafa, um académico da universidade de Cabul. “Aqueles que querem perturbar as eleições vão optar por atacar alvos fáceis, como os membros das várias campanhas que vão andar pelas províncias. Há o risco de acontecerem outros ataques deste tipo”, acrescentou.

A corrida à presidência afegã é um importante teste para a estabilidade e o futuro do país que viveu os últimos 12 anos sob protecção militar internacional e recebeu dezenas de milhares de dólares em ajudas para a reconstrução e o desenvolvimento. Agora, o Afeganistão enfrenta uma violenta insurreição dos taliban, que esperam pela retirada dos 58 mil soldados da força internacional da NATO (Isaf) no fim do ano para conquistarem terreno.

Estes desafios estavam no centro das preocupações de muitos afegãos que no domingo mostraram apoio aos diferentes candidatos. “Se não votarmos, arriscamo-nos a perder todos os progressos que foram feitos nos últimos anos”, resumiu Freshta Maqsoodi, uma jovem de 22 anos, durante o comício de Abdullah Abdullah.

Notícia corrigida: Corrige-se data das eleições presidenciais, que se realizarão a 5 de Abril.

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