Activista chinês acolhido em Nova Iorque como um herói

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Chen Guangcheng à chegada ontem aos Estados Unidos Eduardo Munoz/Reuters

O dissidente chinês cego Chen Guangcheng foi acolhido à chegada a Nova Iorque, após lhe ter sido ontem permitido deixar o país de origem para os Estados Unidos, por uma pequena multidão de activistas e apoiantes que o saudaram com flores e gritos de encorajamento. Elogiou a “calma e contenção” com que as autoridades de Pequim lidaram com o seu caso, mas expressou também preocupação sobre a segurança de familiares e amigos que ficaram na China.

Às portas da Universidade de Nova Iorque, em Manhattan, onde vai estudar e viver com a mulher e dois filhos, Chen Guangcheng, mostrou-se emocionado, mas também contido nas palavras, sem deixar de instar “muito educadamente” – era descrito pelo correspondente da BBC – a China à mudança.

“Temos que juntar as nossas forças e continuar a lutar pelo bem no mundo e continuar a lutar contra a injustiça. Espero que todos se juntem a mim para promover a justiça e equidade na China”, afirmou, em curtas declarações traduzidas por um intérprete, antes de entrar no apartamento que lhe foi atribuído em Greenwich Village. As agências noticiosas relatam que Chen Guangcheng aparentava estar exausto e o próprio insistiu precisar “de descansar, o corpo e o espírito”.

Antes porém frisou que “os actos de represália em Shandong não diminuíram” e os seus direitos de exercer advocacia “foram restringidos”. “Esperamos que seja feita uma investigação zelosa sobre isto”, insistiu ainda, nesta referência à região de onde é oriundo, no nordeste da China, onde se tornou célebre – na denúncia e combate às práticas de esterilização e abortos forçados ali levadas a cabo ao abrigo da lei chinesa de filho único – e onde muitos dos seus familiares ainda permanecem sob a ameaça de vinganças das autoridades locais depois da fuga do activista.

Chen Guangcheng escapara-se em finais de Abril da detenção domiciliária a que estava sujeito há mais de dois anos, depois de ter cumprido já uma pena de quatro anos de prisão pelos crimes de danos materiais e interrupção do trânsito – e dos quais se declara inocente. Evadindo-se da vigilância de dezenas de guardas, saltou o muro em redor da sua casa em Shandong, tendo então partido um pé, e passou horas escondido numa pocilga até obter ajuda de amigos que o levaram para Pequim.

Aí conseguiu refúgio na embaixada norte-americana, onde permaneceu durante seis dias, até 2 de Maio, abrindo uma crise diplomática entre Pequim e Washington, na altura em que a secretária de Estado Hillary Clinton estava em visita à China.

Uma solução negociada entre os dois países abriu a porta a uma saída do activista para o exílio, mas passar-se-iam ainda três semanas de incerteza até que ontem, Chen Guangcheng recebeu no hospital em que se encontrava em Pequim ordem para fazer as malas.

Em poucas horas foi levado com a mulher, Yuan Weijing, e os dois filhos, de seis e oito anos de idade, para o aeroporto da capital chinesa, recebeu os passaportes necessários para viajar e deram-lhe autorização para embarcar com a família num voo da United Airlines com destino a Newark, em New Jersey – onde chegaram ontem pelas 18h (locais, mais cinco horas em Portugal continental).

Já nos Estados Unidos, o activista chinês agradeceu também aos responsáveis norte-americanos pela ajuda dada na solução do seu caso, assim como a oferta de uma bolsa para continuar os seus estudos na Faculdade de Direito da Universidade de Nova Iorque.

A antiga speaker da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi avaliou a chegada do activista aos Estados Unidos como “um marco na causa dos direitos humanos na China”. “A coragem de Chen Guangcheng em arriscar a sua vida e o seu bem-estar para defender pessoas desprotegidas na China constitui uma inspiração para todos quantos buscam e defendem a liberdade em todo o mundo”, afirmou.

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