Activista angolano em greve de fome transferido para hospital-prisão

Luaty Beirão não come há 20 dias e está em estado grave.

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Luaty Beirão está em estado grave DR

Henrique Luaty Beirão, um dos activistas detidos desde Junho em Angola e que está há 20 dias em greve de fome, foi transferido sexta-feira para o Hospital-Prisão de São Paulo. As últimas informações dão conta do início da falência técnica de alguns órgãos de Beirão, preso sob acusação de fomentar um golpe de Estado.

Já há vários dias que Luaty Beirão não consegue sequer ingerir líquidos, tinha revelado a família. “Está entre a vida e a morte”, tinha dito ao PÚBLICO na quinta-feira Walter Tondela, advogado de 12 dos 17 detidos sob suspeita de tentarem derrubar o Governo do Presidente José Eduardo dos Santos. Este sábado, “vários familiares estão à porta do hospital-prisão, mas sem que lhes tenha sido permitida a entrada”, diz-se na página do Facebook sobre a situação do activista.

A televisão oficial TPA citou representantes dos Serviços Prisionais dizendo que Luaty Beirão, activista e músico, conhecido no meio artístico como Ikonoklasta ou Brigadeiro Mata Frakuzx, “mantém os sinais vitais dentro dos parâmetros, está consciente, está orientado” e apresenta a debilidade esperada para alguém que fica tanto tempo sem se alimentar. A família, no entanto, não acredita nestas declarações. Soube que ele chegou de maca ao hospital-prisão. “Se dizem que ele está bem, porque então foi transferido para o hospital-prisão? É contraditório”.

"O Luaty pode morrer a qualquer momento. Numa greve de fome devia ingerir três litros de água, quando nem meio litro consegue. Os órgãos já começam a deixar de funcionar e todos os dias apresenta um quadro diferente", disse Mónica Almeida, casada com o activista e rapper, citada pela agência Lusa.

A TPA começou também a transmitir imagens de Luaty Beirão, tentando entrevistá-lo, perguntando-lhe se não está preocupado com a sua saúde. "Admiro a persistência, mas não vou falar", diz o rapper, nas declarações emitidas pela televisão pública angolana, sem data.

Luaty Beirão faz parte do grupo de activistas conhecido como 15+1, detidos desde 20 de Junho, acusados pelo Ministério Público de estarem a preparar um golpe de Estado contra o Presidente da República, José Eduardo dos Santos. A acusação só foi formalizada no início do mês, depois do prazo de 90 dias da prisão preventiva ter sido ultrapassado.

Estas prisões desencadearam um amplo movimento de solidariedade, dentro e fora de Angola mas que não fez mover, até agora, nem a justiça nem a clemência do Presidente da República.

O jornalista e activista angolano Rafael Marques publicou uma carta dirigida a Luaty Beirão, no seu site Maka Angola – Luaty meu herói – em que diz compreender a sua luta, porque ele próprio passou 14 dias sem comer quando esteve preso em 1999, “por ter chamado ‘corrupto’ e ‘ditador’ a este mesmo Presidente”.

“O Luaty tem a seu favor os sinais da mudança. O seu sonho por uma Angola sem a procuradoria do Presidente, mas ao invés com um sistema de justiça ao serviço de todos os angolanos, pode estar mais perto do que pensamos ou queremos admitir. O Luaty tem também a seu favor as redes sociais, a juventude cada vez mais consciente, mas sobretudo a sua extraordinária convicção. Eu sou mais estratégico, o Luaty é puro na sua forma de pensar e agir. Agora peço-te, Luaty, meu amigo, irmão e meu puto (porque tratas-me sempre por kota e este é o meu troco): lê esta mensagem e, lentamente, volta a comer…”, escreveu Rafael Marques a 9 de Outubro. Não é a primeira vez que toma posição pública em defesa destes prisioneiros.

Na noite de sexta para sábado realizou-se mais uma vigília por Luaty Beirão, e este sábado decorre outra, na igreja da Sagrada Família, em Luanda, a partir das 17h30 locais.

 

 

 

 

 

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