Abbas avisa EUA sobre riscos de levar embaixada para Jerusalém

Presidente da Autoridade Palestiniana diz que se Trump avançar com proposta feita na campanha pode recuar no reconhecimento do Estado de Israel.

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Abbas encontrou-se com o Papa e inaugurou a nova embaixada da Palestina no Vaticano Giuseppe Lami/Reuters/ Pool

O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, avisou que o processo de paz no Médio Oriente poderá ficar comprometido se os Estados Unidos mudarem a sua embaixada em Israel de Telavive para Jerusalém, tal como Donald Trump prometeu durante a campanha presidencial.

Abbas falava no Vaticano, onde foi inaugurar aquela que é a mais recente embaixada palestiniana, tendo-se encontrado com o Papa Francisco. Há vários anos que a Santa Sé reconhecia implicitamente o Estado da Palestina, uma decisão que tornou oficial em 2015 com a assinatura de um tratado. Foi um de vários Estados que, perante a paralisia no processo de paz, decidiram antecipar-se, dando forma à solução de dois Estados que há duas décadas serve de base às negociações.

A representação, situada à saída de um dos principais portões da Cidade do Vaticano, “é um orgulho para nós e esperamos que todos os países do mundo reconheçam o Estado da Palestina, porque isso nos aproxima do processo de paz”, afirmou Abbas, ao descerrar a placa que assinala a inauguração do local.

Israel opõe-se frontalmente a estas iniciativas unilaterais, insistindo que a criação do Estado palestiniano só poderá acontecer como consequência de um acordo de paz. A Autoridade Palestiniana insiste, no entanto, que vai continuar a sua campanha internacional pelo reconhecimento, acusando Israel de boicotar as negociações com a recusa em suspender a colonização. Um aviso que repete a dias da tomada de posse de Trump.

O Presidente eleito não detalhou ainda a sua política para o conflito, mas tem dado sinais de grande proximidade com a direita ultranacionalista israelita. O seu novo embaixador em Israel, David Friedman, é um acérrimo defensor da expansão dos colonatos em Jerusalém Leste e na Cisjordânia, território ocupados desde 1967, e opõe-se à solução de dois Estados. E a mudança da embaixada de Telavive para Jerusalém seria o reconhecimento implícito das reivindicações de Israel, que proclama a cidade como sua capital “eterna e indivisível”.

“Estamos à espera para ver se isso vai acontecer. Porque não seria encorajador e iria comprometer e bloquear o processo de paz”, afirmou o líder palestiniano, no final do encontro com o Papa. Numa entrevista ao jornal francês Le Figaro, Abbas vai mais longe, afirmando que se Trump passar das palavras aos actos “isso vai não só retirar aos Estados Unidos a legitimidade para desempenharem um papel na resolução do conflito, mas vai também reduzir a nada a solução de dois Estados”.

Abbas acrescentou que, se os EUA mudarem a embaixada para Jerusalém, discutirá uma resposta em conjunto com os países árabes, não excluindo adoptar um passo que Ramallah nunca deu desde os acordos de paz de Oslo, em 1995. “Recuar no reconhecimento de Israel é uma das opções, mas esperamos que não cheguemos a esse ponto.”

Num comunicado divulgado no final do encontro com Abbas, o Vaticano não faz referência directa a Jerusalém, mas afirma a importância “de salvaguardar a santidade dos lugares sagrados para os crentes das três religiões abraâmicas” e pede o reinício das negociações de paz “para pôr fim à violência que continua a causar um sofrimento inaceitável às populações civis”. 

Notícia corrigida. Versão anterior indicava que Abbas iria participar na conferência internacional sobre a paz no Médio Oriente.

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