A subir nas sondagens, independentistas escoceses cortejam o voto dos trabalhistas

Primeiro-ministro escocês diz que campanha do "não" é a mais "miserável, negativa e deprimente" da História.

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Salmond diz que o referendo não é sobre ele ou o seu partido mas sobre "colocar o futuro da Escócia nas mãos dos escoceses” Russell Cheyne/Reuters

Animados pela subida nas sondagens e por uma campanha adversária que parece capaz de cometer todos os erros que os manuais de estratégia mandam evitar, os nacionalistas escoceses querem conquistar os eleitores trabalhistas, dominantes na região e hostis, por princípio e tradição, aos conservadores no poder em Londres. O referendo de 18 de Setembro, afirmou o primeiro-ministro Alex Salmond, não é sobre que partido vai governar em Edimburgo, mas sobre a possibilidade de “colocar o futuro da Escócia nas mãos dos escoceses”.

O Labour faz frente unida com os conservadores e os liberais-democratas na oposição à independência da Escócia (a campanha pelo “não” é liderada pelo ex-ministro das Finanças Alistair Darling). Mas as sondagens indicam que, ao contrário dos tories e lib-dem, o grosso dos eleitores da esquerda ainda não sabe como vai votar – os indecisos rondam ainda 15% dos votantes, decisivos para decidir o desfecho do referendo.

É para eles que o Partido Nacionalista Escocês (SNP), de Salmond, agora dirige as suas atenções, jogando com a impopularidade que os tories – e as políticas de austeridade impostas pelo Governo de David Cameron – têm na região. Uma Escócia independente, afirmou neste sábado o chefe do governo autónomo, “pode ser governada pelo SNP, pelo Labour, ou por uma coligação” entre os dois partidos. “O que vos posso dizer é que não será governada por um partido que tem apenas um deputado eleito pela Escócia”, disse Salmond no discurso de encerramento da convenção do SNP, em Aberdeen, a capital da indústria petrolífera escocesa, na qual os nacionalistas apostam a auto-suficiência da região.

É a última reunião do partido antes da histórica consulta e o tom é de optimismo, face às sondagens que indicam uma diminuição da margem que separa o “sim” do “não”, ainda destacado na frente. Há estudos para todos os gostos: o SNP apresentou antes da convenção um que atribuía ao “sim” 47% das intenções de voto, excluindo os indecisos. Mas se é certo que o “não” continua em maioria, os que apoiam a ideia de independência rondam agora os 40%, quando há um ano eram apenas um terço.

Mérito dos aguerridos nacionalistas, que têm contornado todas as dúvidas levantadas sobre a sustentabilidade de uma Escócia fora do Reino Unido, mas muita culpa também dos “tiros no pé” dos que se opõem à independência. Tudo parece ter-lhes começado a correr mal há meses, quando decidiram endurecer o combate e centrar-se nas consequências da cisão com o Reino Unido.

 A peça central dessa estratégia é a libra, a moeda que os nacionalistas querem manter e Londres assegura que não partilhará com uma Escócia independente. Os avisos de Cameron e de George Osborne, seu ministro das Finanças e como ele representante da elite inglesa, caíram mal nos eleitores escoceses e viraram-se contra Londres depois de, no final de Março, um responsável do Governo ter admitido ao jornal The Guardian que “é claro que haverá uma união monetária” no caso de o “sim” vencer. Já esta semana, o deputado trabalhista e ex-secretário-geral da NATO George Robertson juntou novas achas à fogueira ao afirmar que a independência da Escócia seria “cataclísmica” para o Ocidente.

A campanha do “não”, “é a mais miserável, negativa, deprimente e aborrecida da História da política moderna”, acusou Salmond, no discurso em Aberdeen, ecoando críticas que se ouvem também entre os que se opõem à independência e aos parceiros europeus. Quinta-feira, um diplomata sediado em Edimburgo confidenciou ao Guardian que deixou de ver a vitória do “sim” como improvável. Agora, diz, “é provável mas não garantida”.
 

   

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