"A Rússia não é nem uma ameaça imediata nem um aliado da NATO"

Cimeira de Varsóvia aprova estratégia de dissuasão, sob críticas de Moscovo.

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A Presidente da Croácia, Kolinda Grabar-Kitarovic; Presidente polaco Andrzej Duda;secretário-geral da NATO Jens Stoltenberg; Presidente da Lituânia Dalia Grybauskaite; chanceler alemã Angela Merkel; Presidente francês François Hollande e Presidente turco Recep Erdogan reagem ao ver uma demonstração aérea Kacper Pempel/REUTERS

A Rússia não é “nem uma ameaça imediata nem um aliado da NATO”, sublinhou o secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, em Varsóvia, onde termina este sábado a cimeira bianual da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que define uma nova posição estratégica em relação a Moscovo.

“O que nunca vai mudar é o compromisso sem hesitações dos Estados Unidos com a segurança e defesa da Europa”, assegurou o Presidente norte-americano, Barack Obama, no fim da cimeira, afastando os receios criados pelas declarações do candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, que classificou a NATO como uma organização “obsoleta”.

Stoltenberg desenvolveu a estratégia que se desenha para a Aliança: “Não temos a parceria estratégica que tentámos desenvolver após a Guerra Fria, mas já não estamos numa situação de Guerra Fria”, sublinhou. “Defesa forte e diálogo construtivo, estes são os compromissos sobre os quais se fundam as nossas relações com a Rússia”, afirmou.

O comunicado final da cimeira frisou que “a natureza das relações da Aliança com a Rússia e as aspirações a uma parceria são contingentes a uma alteração clara e construtiva nas acções da Rússia que demonstre o cumprimento da lei internacional e das suas obrigações e responsabilidades internacionais”.

Stoltenberg apelou ao fim do apoio “político, militar e financeiro da Rússia aos separatistas” que lutam contra Kiev no Leste da Rússia como uma condição para o regresso à normalidade das relações com Moscovo. A anexação da Crimeia, considerada “ilegal e ilegítima”, os “exercícios militares de larga escala” e outras “actividades militares provocatórias perto das fronteiras da NATO”, “as violações repetidas do espaço aéreo aliado”, “a retórica nuclear irresponsável e agressiva” e a “intervenção militar e significativa presença militar na Síria em apoio do regime de Assad” fazem parte do rol de acções que a Aliança Atlântica classifica como “acções políticas desestabilizadoras” russas dos últimos anos.

É por causa de tudo isto que, na sexta-feira, os líderes da NATO aprovaram a criação dos novos quatro batalhões móveis multinacionais que ficarão nos três países bálticos e na Polónia, e que fazem parte da nova estratégia de dissuasão de eventuais avanços russos.

Criticas de Gorbatchov

Nos media russos, estas movimentações da Aliança Atlântica estão a ser recebidas com desagrado: “Parece que a NATO está a sonhar em fazer guerra com a Rússia, titulou o jornal Pravda, citado pelo correspondente da BBC em Moscovo. As medidas tomadas pela NATO “reflectem os seus planos para mais confrontos com a Rússia e para se expandir para Leste”, diz a Nezavisimaya Gazeta, citada também pela BBC.

Mikhail Gorbatchov, que enquanto Presidente da União Soviética pôs fim à Guerra Fria, tem criticado a NATO por contribuir para aumentar a tensão com a Rússia, e é citado pela agência russa Interfax a tecer críticas à nova lógica de dissuasão aprovada pela Aliança. “Toda a retórica de Varsóvia como que grita o desejo de declarar guerra à Rússia”, declarou Gorbatchov.

Quanto às ambições da Geórgia e da Ucrânia de virem a juntar-se à NATO, da cimeira de Varsóvia não levaram grande coisa. A Ucrânia pôde contar com o apoio dos 28 líderes da Aliança no apelo para o acordo dos acordos de paz de Minsk, apesar das múltiplas violações do cessar-fogo no Leste, mas também o aviso de que tem de fazer mais relativamente às reformas. O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, reuniu-se com Barack Obama, Angela Merkel, François Hollande, David Cameron e Matteo Renzi.

Finalmente, os líderes dos 27 países da NATO para além dos Estados Unidos prometeram canalizar cerca de mil milhões de dólares anuais durante os próximos três anos para continuar a financiar o exército afegão e a missão de treino das Forças Armadas afegãs, que conta com 12 mil militares da NATO e dos EUA. Washington canaliza, no entanto 3,5 mil milhões de dólares anuais para esta missão.

Esta semana, o Presidente Obama anunciou planos para deixar 8400 militares norte-americanos no Afeganistão até ao fim do seu mandato, no início de 2017, atrasando ainda mais a retirada dos EUA, nesta guerra que já leva 14 anos e à qual ele tinha prometido pôr fim até ao fim da sua estadia na Casa Branca.

No entanto, reconhecendo que os taliban voltam a conquistar território e a aterrorizar a população, Obama voltou a reajustar os planos de retirada. Estão cerca de dez mil soldados dos EUA no Afeganistão – quando Obama tomou posse eram 40 mil –, que cumprem também missões de contraterrorismo.

A operação antiterrorismo no Mediterrâneo da NATO Active Endeavour, iniciada em Outubro de 2001, vai ser transformada na operação Guardião dos Mares, colaborando com agência europeia de imigração Frontex para a complementar, ou então a pedido específico da União Europeia, para dar apoio à missão Sophia da UE, no Mediterrâneo Central, de combate à imigração ilegal e ao tráfico de pessoas. proveniente da costa da Líbia.

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