A guerra vai provocar um pico de malnutrição no Iémen

Às dificuldades no acesso à água junta-se o aumento do preço dos víveres, a dificuldade de circular no país e a redução dos serviços do Estado.

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Os combates são mais violentos em Áden SALEH AL-OBEIDI/AFP

O Iémen sempre foi um país vulnerável à malnutrição. A falta de alimentos é crónica; no ano passado, 48% da população não teve acesso a comida suficiente e nutritiva, uma das taxas mais altas do mundo. A malnutrição vai agravar-se nas próximas semanas e vai assistir-se a um aumento de casos, advertiu a Unicef, alertando para que as crianças vão ser as primeiras vítimas.

"Vamos assistir a um pico de malnutrição nas próximas semanas, infelizmente essa é a verdade", disse em Genebra a representante da Unicef no Iémen, Julien Harneis.

O alto-representante da ONU para a Infância disse que a malnutrição tem efeitos que vão além da saúde. "As dificuldades no acesso à água e a falta de água potável, o aumento do preço dos víveres, a dificuldade de circular no país, tudo combinado com a redução dos serviços do Estado" vai também fazer com que ocorra uma "nova redução na taxa de escolaridade das crianças".

Harneis esteve em Genebra para dar conta da situação no terreno e sublinhou a questão da alimentação para reforçar que a chegada da ajuda alimentar, que é esperada desde o fim-de-semana passado, é urgente. Os riscos elevados têm impedido essa ajuda de chegar, quer por falta de aviões para fazer os transportes, quer por falta de garantias de que vão aterrar em segurança. A Unicef esperava que, nesta quinta-feira, pudesse aterrar em Sanaa um avião com água e produtos de higiene.

No Iémen decorre uma guerra pelo poder que opõe, no terreno, as forças huthis (xiitas) e as do Presidente reconhecido internacionalmente, Abd Rabbuh Mansur Al-Hadi, que está refugiado na Arábia Saudita. Este país, com nove aliados, iniciou a 26 de Março uma segunda etapa na guerra, ao bombardear as posições huthis — os bombardeamentos são um dos factores de instabilidade e mortalidade, uma vez que estão a atingir infra-estruturas e zonas civis.

Harneis disse que pelo menos 77 crianças foram mortas desde 26 de Março e que 44 ficaram feridas. "Pensamos que muitas mais crianças foram mortas. Há crianças a morrer nos bombardeamentos a norte, vítimas dos obuses perdidos da defesa aérea, e crianças a serem mortas nos conflitos mais intensos de Áden e Dhale", disse Harneis, atribuindo a respobsabilidade a todas as partes do conflito.

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