A face mais visível da crise grega

“É normal”, diz um. “É um desastre total”, diz outro. E ambos têm razão em relação ao crash bolsista.

Quando a Bolsa de Atenas abriu esta segunda-feira, e depois de cinco semanas sem negociar, foi o descalabro. O principal índice chegou a afundar-se 23%, a maior queda de sempre, e a banca escorregou 30%, o limite máximo permitido pelas regras da bolsa. “É um desastre total, parece que estamos no inferno.” Foram estas as palavras de um gestor de fundos à Bloomberg. Já o presidente da Bolsa de Atenas, em declarações à mesma agência, e tentando desdramatizar a dimensão da queda, dizia: “É normal. Toda a reacção até agora tem sido lógica.” E ambos têm razão: é um desastre total e é normal que assim seja.

Primeiro porque, depois de cinco semanas impedidos os investidores de negociar, muita coisa aconteceu na Grécia, sendo a mais relevante o acordo firmado pelo Governo para um terceiro resgate no valor de 86 mil milhões em troca de mais austeridade que poderá dar um golpe fatal à já muito debilitada economia. Em segundo lugar, as bolsas voltaram a negociar numa altura em que ainda persiste o controlo de capitais. E no final da semana passada foram impostas restrições adicionais, precisamente para evitar que os gregos utilizassem a compra de acções como forma de contornar a limitação à saída de euros do país.

Por fim a Bolsa de Atenas está a ajustar-se às novas previsões para a economia que já apontam para uma quebra adicional do PIB de 4% este ano. E um relatório publicado no início desta semana sobre a indústria mostra que o sector está em franca recessão e que o emprego criado registou a maior quebra dos últimos 16 anos. Com tantos espartilhos colocados à economia, a reacção os investidores é desastrosa, mas não deixa de ser normal. A Grécia de ontem não é a mesma Grécia de há cinco semanas. Por culpa própria, e por culpa dos credores, o país está num beco sem saída, e a queda da bolsa é apenas a face mais visível dessa espiral recessiva.

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