A Europa vota Monti e humilha Berlusconi

A última reunião do Partido Popular Europeu levou Berlusconi e Monti a Bruxelas. O primeiro foi ignorado, o segundo foi louvado.

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"Se eu soubesse não tinha vindo", terá desabafado Berlusconi Eric Vidal/REUTERS

Uma semana louca para Silvio Berlusconi: depois de ter anunciado o seu regresso ao palco principal da política italiana para depois fazer uma aparente marcha-atrás, o Cavaliere foi enxovalhado pelos líderes europeus reunidos na quinta-feira em Bruxelas. Da direita e da esquerda, as críticas foram disparadas de todas as direcções. Monti é o homem que a Europa quer.

“O Partido Popular Europeu (PPE) apresentou a candidatura de Mario Monti  para a liderança do futuro governo italiano. Fê-lo na presença de Angela Merkel e de Silvio Berlusconi, de forma explícita e sem nenhuma cortesia diplomática”, constatou Antonio Polito, do jornal Il Corriere della Sera.

Durante a reunião do PPE que precedeu a cimeira europeia, Il Cavaliere foi acolhido friamente pelos seus ex-homólogos, sendo que nenhum se aproximou para o cumprimentar. 
“À excepção do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban (e só isso já dá que pensar!) ninguém foi indulgente com Berlusconi” notou Massimo Ginnini no
La Repubblica, que colocou na primeira página a manchete: “A Europa vota Monti”.

“Estamos no limite da ingerência”, considerou aquele editorialista, acompanhado por Antonio Polito: “A ingerência é evidente, mas o problema é que o risco apresentado por Itália (terceira economia da zona euro) assusta verdadeiramente a Europa.”

Giacomo Marramao, professor de filosofia política da universidade Roma III, recusa por seu lado ver na intervenção do PPE uma ingerência ilegítima nos assuntos internos italianos.

“Parece-me absolutamente legítimo que um partido europeu dê a sua opinão sobre as escolhas políticas nacionais: era inevitável e foi mesmo um passo em frente. No fim de contas, são de qualquer maneira os eleitores que vão decidir!”, explicou Marramao numa entrevista à AFP. “A Europa reagiu enquanto entidade política e não apenas económica”.

Para Antonio Polito, esta “europeização da política interna não é fruto do acaso”. “Os nossos parceiros europeus não se ocupam de nós por altruísmo, nem por imperialismo, mas sim por autodefesa.”

Berlusconi encontra-se numa situação humilhante. “Se eu soubesse aquilo que me esperava, se eu soubesse que também tinham convidado Monti, não teria vindo”, terá desabafado aos seus próximos Il Cavaliere, de 76 anos, citado pelo La Repubblica.

Armadilhado, Berlusconi viu-se obrigado a dar o seu apoio a Monti. “Nunca vimos um dirigente de um partido propor como candidato ao posto de primeiro-ministro aquele a quem acabou de retirar a confiança” no Parlamento, sublinha ironicamente Michele Brambilla no La Stampa.

Giacomo Marramao vê “a estigmatização de um líder político que segundo a maioria dos membros do PPE conduziu uma política não em nome do interesse geral mas para defender os seus interesses privados”.

“Muitos vêem Berlusconi como uma anomalia e uma ameaça para a política da União Europeia e, por outro lado, vêem em Monti uma pessoa fiável cuja política se encaixa perfeitamente no quadro europeu”, resume Marramao.

O Presidente francês François Hollande foi um dos líderes europeus a comentar o regresso de Il Cavaliere: “Não penso que haja uma perspectiva muito séria da parte de Berlusconi, e tanto é assim que ele próprio parece ter excluído a sua candidatura.” Mas depois acrescentou: “Enfim, com ele, aquilo que é verdade num dia não o é forçosamente no dia seguinte.”

Mas que futuro para Berlusconi, cujo partido conta com 15% a 20% de intenções de voto nas sondagens feitas tendo em vista as eleições de Fevereiro?

Para Giacomo Marramao, “Berlusconi pertence ao passado mas pode ser um factor de perturbação, mesmo que eu pense que ele não vai ter muitos votos”. Já Massimo Giannini considera que o magnata “vai ficar na política, para se defender dos processos judiciais e para preservar o seu império mediático, mas ainda não sabe a desempenhar que papel e com quem”.

“É por isso que ele diz tudo e o seu contrário, remata Giannini.

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