A dívida grega

Em 4 anos, a dívida soberana da Grécia mudou de mãos e abateu 9%. Segundo o World Economic Forum, em 2011 ela somava 355 mil milhões (MM), dos quais 41% detidos por “privados” (bancos europeus e de fora do Euro, gregos e empresas gregas), 27% por credores oficiais (15% da zona euro, 6% pelo FMI e 6% pelo BCE), entre outros. Hoje, atinge 322 mil milhões de euros, partilhados em 77% por credores oficiais (60% da zona euro, 10% pelo FMI, 6% pelo BCE e 1% pelo Banco da Grécia), 18% por outros empréstimos, títulos e obrigações, sendo que aquele conjunto de “privados” já só detêm 4%. A reestruturação de 2012, baseada em cortes do valor facial da dívida detida por privados, ocorreu após a Troika ter afirmado solenemente que tal operação jamais ocorreria num país da zona euro. Na turbulência económica dos últimos dias, FMI e Governo da Grécia de novo estão de acordo. A dívida é insustentável e inevitável novo perdão (haircut). Falhado o recebimento da última tranche do programa de ajustamento (7,2 MM de euros), confirmado o não pagamento dos 1,544 MM ao FMI e tendo em conta o impacto do controlo de capitais em curso, estimam-se em 60 MM de euros as necessidades financeiras da Grécia até 2018, dos quais 36 MM deveriam ser co-financiados pela Europa. O FMI pretende que os parceiros europeus garantam a Atenas empréstimos futuros e descrê da complexidade interactiva entre crescimento, saldos orçamentais e taxas de juro, indispensável ao abate da dívida. Crescimento inferior a 1% (0,1% no primeiro trimestre), excedente primário inferior a 2,5% do PIB (em 2014, registou 1,7%) e juro fixo, nem em várias décadas a trajectória dívida/PIB regressará a níveis seguros. A realidade encarrega-se de desmentir o fantasioso paradigma da austeridade expansionista. Mas os gregos não o omitiram e colocaram na ordem do dia a dívida a par das reformas, o que enfureceu os credores. João Ferreira da Cruz, economista

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