A deriva do assassino de Sousse para o jihadismo

Seifeddine Rezgui parecia ser um jovem como os outros. Mas algures entre o sucesso nos estudos e o amor pelo breakdance, Rezgui tornou-se Abou Yahya, o "soldado do califado" que matou 39 turistas numa praia na Tunísia.

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A família de Rezgui questiona-se sobre como e quando o jovem de 23 anos se tornou um "soldado do califado" AFP

Parecia ser um jovem tunisino como muitos outros, um estudante de mestrado e breakdancer amador. Mas o presumível autor do atentado num hotel perto de Sousse acabou numa poça de sangue, abatido pela polícia depois de ter massacrado 39 pessoas.

O jovem vestido de calções e t-shirt negros que abriu fogo na sexta-feira sobre os turistas em fato de banho, que desfrutavam do sol na praia, foi identificado pelas autoridades como Seifeddine Rezgui, um tunisino de 23 anos.

Originário de Gaafour, uma pequena vila da província de Siliana (noroeste), Rezgui frequentava o mestrado profissional no Instituto Superior de Estudos Tecnológicos de Kairouan, no centro do país, como indica o Ministério do Interior. “Um sujeito desconhecido pelos nossos serviços. O seu ambiente familiar era normal”, declarou o porta-voz do ministério, Mohamed Ali Aroui, à televisão privada El Hiwar Ettounsi.

Daí a estupefacção, na sua vila e nos media, quanto ao “terrorista enigmático”, nas palavras da El Hiwar Ettounsi. “Como é que um diplomado universitário passa de um jovem com sucesso nos estudos a terrorista e assassino de inocentes?”, perguntava a cadeia televisiva numa reportagem.

No domingo, o seu pai, abatido, recebia condolências de algumas pessoas na sua modesta e pequena casa, que é partilhada por vários membros da família no bairro pobre de Hay Ezzouhour, em Gaafour. “Por favor, não falarei mais”, pedia esgotado aos jornalistas este homem que, segundo um vizinho, trabalha como operário, mas compõe o salário com serviços de pedreiro.

Como muitos vizinhos, o tio de Seifeddine Rezgui, Ali, de 71 anos, partilha do espanto. “Em 23 anos, ele não fez nada de ilegal. Terminou o curso, ria, dizia bom dia e seguia o seu caminho”, diz à AFP. “Como é que começou? Onde é que começou? Só Deus o sabe. É isso que nos atormenta agora”, conclui.

Um dos seus primos, Nizar, de 32 anos, assegura que se encontrou com Seifeddine Rezgui, em Gaafour, no dia anterior ao atentado, no local onde ele trabalhava ocasionalmente como empregado de mesa para financiar os seus estudos.

“Estava normal. Chegou cá, trabalhou no café, regressou a casa, foi rezar e depois sentou-se com o resto dos rapazes no café”, afirma. “Toda Gaafour está surpreendida”, frisou.

“Um certo rigor”
Especialmente porque muitos lhe traçam um retrato muito distante do de Abou Yahya, o “soldado do califado”, como Rezgui foi mencionado pelo Estado Islâmico no comunicado que reivindicou o ataque.  

Um jovem da sua aldeia diz que ele fez parte do clube de dança no centro juvenil. “Era um bom dançarino de breakdance”, diz à AFP sob protecção de anonimato, por receio de ser suspeito de ter ligações com o alegado criminoso e por isso ser detido.

O porta-voz do Ministério do Interior confirmou que Rezgui tinha uma “paixão pela dança” e os media locais divulgaram um vídeo, datado de 2010, no qual um jovem, de boné na cabeça e colar ao pescoço, que será Seifeddine Rezgui – alcunhado nos créditos do vídeo como “Seif Sésco” – dança breakdance.

Questionados pelos media tunisinos, muitos dos seus vizinhos em Kairouan dizem que não havia nada “de anormal” nele. Mas, segundo os habitantes do seu bairro em Gaafour, Rezgui perdeu um irmão no ano passado, vítima de um relâmpago, e, de acordo com o Ministério do Interior, o jovem isolava-se cada vez mais nos últimos tempos.

“Ultimamente, os seus amigos repararam-lhe um certo rigor e que Rezgui tendia para o isolamento. Estava imerso na Internet e não dizia, mesmo aos seus amigos, o que é que lá consultava. Isolava-se quando estava na Internet”, assegura Mohamed Ali Aroui.

Se o primeiro-ministro tunisino, Habib Essid, indica que o passaporte de Seifeddine Rezgui não tem registo de viagens ao estrangeiro, não se exclui a possibilidade, como indica uma fonte das autoridades, que o jovem tenha viajado para a Líbia clandestinamente. 

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