A apertada tenaz do poder chinês

A pretexto de autodefesa, o regime chinês transformou a segurança interna num novo “big brother”.

Pela nova lei de segurança interna aprovada em Pequim é fácil perceber para onde vai o poder chinês. Quando por todo o mundo estalam conflitos que aproveitam brechas da democracia, o regime chinês aperta a tenaz da segurança e reergue, intocável, a bandeira da ideologia. A lei anterior, de 1993, é agora substituída por uma nova legislação onde se releva a “segurança política e social” e a “segurança ideológica”, abrindo portas a que quaisquer movimentos de dissidência ou em defesa dos direitos humanos sejam “legalmente” reprimidos, em nome do interesse nacional. Claro que, antes desta lei, o regime já reprimia, sem hesitar, revoltas ou manifestações de descontentamento locais como as dos muçulmanos uigures em Xinjiang ou as dos cidadãos de Hong Kong por eleições livres e sem candidatos impostos pelo partido comunista, mas esta nova lei foi feita de modo a acentuar, na vaguidão de várias das suas passagens, ainda mais o regime de arbítrio. “A lei dá um cheque em branco para vigiar e castigar qualquer pessoa que não seja do seu agrado, como os defensores dos direitos humanos e os opositores”, diz William Nee, da Amnistia Internacional, no Twitter. Mas até o espaço virtual passa a ser legalmente território vigiado. Isto porque a nova lei declara o ciberespaço e o espaço para lá da atmosfera terrestre (o que deverá incluir satélites) como parte dos interesses da segurança chinesa. Como tudo o resto, terão, por isso, que ser vigiados. Ora se na China a Internet e as redes sociais já são controladas, a partir de agora esse controlo pode resvalar para uma paranóia securitária que pode aproximar-se da que foi exercida nos anos de terror maoísta. No enorme gigante asiático, lidar com os opositores agora vai ser uma batalha ainda mais feroz por parte do poder. É este o novo preço de um “capitalismo comunista” em segurança. Ou seja, em (aparentemente amena) ditadura.

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