A queda dos muros da Irlanda do Norte vai começar

Até 2023 serão apagadas da paisagem as linhas de tijolo, com ou sem arame farpado, que separam católicos e protestantes.

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Apelos ao fim da força policial da Irlanda do Norte num dos muros que separa as duas comunidades em Belfast Paul McErlane/Reuters

O governo da Irlanda do Norte, que junta representantes do Sinn Fein e do Democratic Union Party (DUP), apresentou na quinta-feira um plano para a demolição dos muros da paz construídos a partir de 1969 para separar os bairros católicos dos protestantes. Este plano integra um programa mais vasto que tem como objectivo criar um modelo verdadeiramente misto de sociedade.

Será formalizado nesta sexta-feira na presença do primeiro-ministro britânico David Cameron, a tempo da cimeira dos oito países mais ricos do mundo, G8, que se realiza na Irlanda do Norte sob alto dispositivo de segurança por medo de novos confrontos sectários.

Peter Robinson do DUP diz, citado pela BBC, que as propostas são as mais ambiciosas alguma vez apresentadas. O responsável máximo do governo da região (first minister),  falou de uma “nova era” na criação de uma sociedade unida na Irlanda do Norte. A meta para retirar os muros da paz da paisagem urbana de várias cidades é 2023.

Alguns desses muros têm oito metros de altura. Foram construídos em betão ou tijolo, alguns têm arame farpado, e servem de linha de separação dos bairros em cidades como Belfast, Derry, Portadown. Começaram a ser construídos em 1969 depois dos violentos motins entre as duas comunidades quando as marchas de civis que denunciavam a discriminação dos irlandeses católicos pelas autoridades (ligadas ao Reino Unido) foram violentamente reprimidas pela Royal Ulster Constabulary Police (RUC), forças policiais do território. A RUC, que foi alvo principal dos ataques do IRA, durante anos, foi desintegrada em 2000, depois dos acordos de paz de 1998.

Com os avanços que se seguiram a esses acordos, os muros foram-se tornando locais de atracção para turistas. Mas só em 2008, se falou pela primeira vez da demolição. Em 2010 foi apresentado um primeiro plano para a pôr em marcha. Mas só agora será formalmente assumido.

“É um dia imensamente importante. Um dia significativo no caminho de um futuro partilhado para a nossa sociedade”, disse Peter Robinson nesta quinta-feira. Em Abril, a imprensa de Belfast ainda referia desentendimentos sérios dentro do governo representativo das duas comunidades.

Mas por ocasião desta primeira apresentação do plano para o futuro da Irlanda do Norte, também Martin McGuinness, líder histórico do Sinn Fein e "número dois" do governo da região (deputy first minister), deixou claro que o grau de compromisso é “total e absoluto” das duas partes para “encontrar soluções”. Além dos dois mais altos representantes, o executivo da região é também constituído por dois ministros-adjuntos e 11 departamentos ministeriais.

Mais investimento e emprego
Além do plano para demolir os muros da paz, o acordo prevê vários incentivos para uma melhor integração entre católicos e protestantes. A organização de 100 campos de Verão para as duas comunidades, a constituição de um programa de desporto juvenil que inclua católicos e protestantes e a construção de dez bairros mistos são apenas alguns exemplos referidos pela BBC. Outro objectivo será a criação de um pacote de oferta de oportunidades a 10 mil jovens desempregados e sem plano de estudos.

“É um passo muito decisivo em frente e um sinal muito claro da nossa capacidade para trabalharmos juntos”, disse McGuinness citado pela BBC. “Este acordo é um símbolo da nossa visão ambiciosa para a Irlanda do Norte – uma sociedade genuinamente unida que realiza o seu potencial económico e fortalece os alicerces para a paz, a estabilidade e a prosperidade numa perspectiva de futuro”, afirmou por seu lado Cameron citado pela Reuters. O objectivo mais amplo deste plano é atrair investimento para desenvolver infraestruturas e criar empregos na Irlanda do Norte.

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