Sete mortos no dia em que milhares de egípcios exigiram a saída do Presidente Morsi

Os protestos espalharam-se por todo o Egipto, no dia em que Mohamed Morsi completou um ano no poder. Oposição promete continuar na rua até à sua demissão.

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200 mil exigem a queda do Presidente Morsi nas ruas do Cairo AFP
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Manifestantes contra Morsi em Alexandria REUTERS

Centenas de milhares de egípcios exigiram neste domingo a demissão do Presidente Mohamed Morsi, acusado pela oposição de sequestrar a revolução e de deixar o Egipto afundar-se na crise. A oposição pediu entretanto para que ninguém deixe a rua até Morsi se demitir. Pelo menos sete pessoas morreram e mais de 600 ficaram feridas, segundo a Reuters.

“Vai-te embora!”, “As pessoas querem a queda do regime”, gritaram os cerca de 200 mil manifestantes que, ao final da tarde de domingo, enchiam a praça Tahrir, berço da revolução e montra dos sucessivos protestos que abalaram o país desde então. Outras 100 mil protestavam à mesma hora em Alexandria.

A Frente de Salvação Nacional, grupo que reúne quase toda a oposição secular e é coordenado pelo antigo director da Agência Internacional de Energia Atómica, Mohamed ElBaradei, veio subir a parada ao final do dia: “Apelamos a todas as forças revolucionárias e a todos os cidadãos que mantenham concentrações pacíficas nas praças, ruas e aldeias do país até à queda de todos os elementos deste regime ditatorial”.

Antes, numa entrevista ao jornal britânico Guardian, Morsi rejeitou a hipótese de antecipar as presidenciais e disse estar confiante de que cumprirá até ao fim os quatro anos de mandato para que foi eleito - é o primeiro chefe de Estado egípcio a chegar ao poder através de eleições democráticas. Reafirmou, no entanto, que está disponível para discutir emendas à Constituição.

Sede da Irmandade atacada
O dia no Cairo foi mais calmo do que os confrontos dos últimos dias deixavam adivinhar, talvez porque durante a maior parte do tempo os dois campos se mantiveram separados — a oposição enchendo a praça Tahrir; os islamistas concentrados junto à mesquita Rabaa al-Adawiya, num subúrbio da capital.

As primeiras notícias de violência surgiram só ao início da noite: a sede da Irmandade, no Cairo, foi atacada com cocktails molotov (causando dois mortos) e em cidades a sul da capital morreram cinco pessoas, avança a Reuters, citando fontes médicas.

Já na sexta-feira tinham morrido duas pessoas, incluindo um estudante norte-americano, durante incidentes junto a uma sede da Irmandade Muçulmana.

Foi na esperança de mobilizar multidões como as que, em 2011, fizeram cair Hosni Mubarak que o Tamarod (Rebelião, em árabe) — um movimento de bases a que se juntaram partidos seculares e de esquerda —  convocou a manifestação para o dia em que Morsi cumpriu o primeiro ano do seu mandato. Aos protestos, os activistas juntaram um desafio: asseguraram que a petição lançada em Abril a exigir a demissão de Morsi recolheu 22 milhões de assinaturas.

Uma fasquia que as manifestações não igualaram. Terá sido, ainda assim, um dos maiores protestos a que o Egipto assistiu desde Janeiro de 2011.

Muitos saíram à rua contra a Irmandade, movimento islamista que passou da ilegalidade a poder dominante no Egipto pós-Mubarak, vencendo todos as eleições realizadas desde a revolução. Outros queriam só mostrar a sua revolta com o agravamento da crise. “Basta olhar para o país. Regredimos 20 anos. Não há gasóleo, nem gasolina, nem electricidade. E a vida está muito mais cara”, lamentava-se Ahmed al-Badri, um comerciante ouvido pela Reuters.

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