Suíça decidiu em referendo proibir que surjam novos minaretes nas suas mesquitas

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Partidário de um comité antiminaretes: a vitória foi uma surpresa RUBEN SPRICH/REUTERS

Por 57,5 por cento dos votos, a população deu uma vitória surpresa a uma iniciativa da direita radical para tirar visibilidade aos templos da comunidade islâmica

Contra tudo o que as sondagens deixavam entender, a iniciativa de proibir a construção de novos minaretes em mesquitas na Suíça foi ontem aprovada em referendo, por 57,5 por cento da população helvética.

Das 180 mesquitas actualmente existentes para os 400.000 muçulmanos residentes no país, só quatro estão dotadas de minaretes; e mesmo essas já não estão a servir para a sua função tradicional de, a partir delas, os fiéis serem chamados à oração.

Apenas quatro dos 26 cantões ou províncias que constituem a Confederação Helvética disseram não aos argumentos ultraconservadores do Partido Democrático do Centro (UDC) e da União Democrática Federal (UDF), que falavam de uma "islamização galopante".

A região de Appenzell (que se poderá traduzir livremente do alemão por "a cela do abade") foi, sintomaticamente, com 71,5 por cento, a que mais votou contra as torres, encaradas como contrárias aos valores tradicionais da nação.

O não à sugerida alteração constitucional foi liderado pelo cantão de Genebra, com 59,7 por cento de votos negativos, tendo sido seguido em outras zonas de língua francesa.

Em consequência dos resultados do referendo, no artigo 72 do Constituição dir-se-á agora que não se podem construir mais minaretes, para "manter a paz entre os membros das diversas comunidades religiosas".

O Conselho Federal (Governo) e a Assembleia Federal tinham chamado a atenção para as consequências negativas desta revisão constitucional, num país onde milionários sauditas e de outros territórios do Golfo Pérsico são presença habitual nos hotéis de luxo.

Os Verdes anunciaram que estudam a possibilidade de recorrer para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, em Estrasburgo, tentado evitar que esta medida seja passada à prática. No entanto, o Conselho Federal garantiu à comunidade islâmica que proibirem-se os minaretes não é de forma alguma "uma rejeição da sua religião ou cultura".

Segundo Farhad Afshar, coordenador das Organizações Islâmicas na Suíça, "o mais doloroso não é a proibição dos minaretes, mas a mensagem transmitida por esta votação", que pressupõe um crescimento do sentimento contra os muçulmanos.

Bispos descontentes

Quinta-feira, a mesquita de Genebra foi vandalizada pela terceira vez durante a campanha do referendo. Começa a notar-se um sentimento de medo entre a comunidade islâmica do país, essencialmente constituída por naturais do Kosovo, da Bósnia e da Turquia. Só 15 por cento usufruem de direitos de cidadania.

Os bispos suíços também não estão contentes: esta votação "é um golpe para a liberdade religiosa e a integração", disse monsenhor Felix Gmür, numa entrevista à Rádio Vaticano, citado pela AFP. "O Concílio Vaticano II diz claramente que é lícito para todas as religiões construir edifícios religiosos, e os minaretes são edifícios religiosos."

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