México ganha algumas batalhas contra o narcotráfico mas a guerra continua

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Uma esquadra de polícia atacada por narcotraficantes REUTERS

Qual é o real efeito do combate ao narcotráfico? Os Zetas perderam três líderes, mas outros podem beneficiar com estas baixas

No espaço de um mês, o grupo Los Zetas perdeu três líderes. O primeiro, Jorge Costilla, mais conhecido como "El Coss", a 12 de Setembro. Seguiu-se Ivan Velazquez, "El Taliban", a 26 do mesmo mês. A mais recente baixa foi a de Heriberto Lazcano, o chefe supremo dos Zetas, e desde 2009 as autoridades mexicanas capturaram e mataram mais de 20 líderes do narcotráfico.

Embora poucos arrisquem dizer que este foi decididamente o golpe final no combate contra Los Zetas, alguns afirmam que poderá ter sido o início do fim deste gang.

É essa a opinião de Alejandro Hope, especialista no estudo do narcotráfico no México. No seu blogue Plata o Plomo, no site noticioso mexicano Animal Politico, Hope deixa uma previsão optimista: "Bem utilizado e bem comunicado, o desmantelamento dos Zetas poderá servir como uma plataforma de dissuasão junto dos restantes grupos criminosos."

Para Hope, os Zetas "enquanto grupo criminoso entraram numa espiral de morte". O especialista aponta que, a cada detenção que é feita, há delações que deixam aqueles que ainda estão por capturar cada vez sem mais saída.

"O que se sucede é uma perda acelerada da coesão num grupo que, por si só, operava de uma maneira descentralizada. As células no terreno irão provavelmente começar a agir de maneira autónoma, sem qualquer controlo hierárquico", continua o Hope. Sem uma estrutura ampla e articulada, o especialista prevê o fim do crime organizado, que será então substituído por crimes mais localizados, mais isolados, que classifica de "banditismo".

Samuel González, ex-director da Unidade Especializada em Crime Organizado da Procuradoria-Geral da República do México, tem uma opinião mais reservada em relação ao efectivo fim da força dos Zetas. Em declarações ao diário espanhol El País, González admite que, agora, os grupos afectos a este gang do narcotráfico poderão, "ao princípio, gerar uma certa anarquia que faça aumentar os crimes, mas ainda está por perceber se a pessoa que vai substituir Lazcano será capaz de replicar a sua estratégia, que é das mais sangrentas, porque incorpora uma metodologia paramilitar". González disse ainda que um eventual desaparecimento dos Zetas não levará a um verdadeiro virar de página no combate ao narcotráfico. Sustenta a sua opinião apontado que os Zetas controlam apenas 15% a 20% dos estupefacientes em circulação no México. Assim, teme-se que um eventual fim dos Zetas possibilitará um novo fôlego a outros grupos concorrentes.

O grupo de Lazcano é conhecido sobretudo pela brutalidade dos seus métodos e pelo seu poderio militar. Chegaram a contar com cerca de dez mil homens em toda a sua estrutura criminosa. Segundo refere a Reuters, o líder dos Zetas era o segundo homem do narcotráfico mais procurado, sendo ultrapassado apenas por Joaquin Guzman, líder do cartel Sinaloa, que controla cerca de 70% do negócio da droga no México.

Como roubar um cadáver

A morte de Heriberto Lazcano, também conhecido como "El Lazca", está envolta numa história digna de um filme de Hollywood.

Já na casa mortuária, onde se confirmou que o corpo era o dele, um grupo de homens armados entrou nas instalações e roubou o cadáver. "Um conjunto de homens com as caras tapadas conseguiram entrar no edifício, pegaram no corpo e obrigaram o dono da agência funerária a conduzir o veículo designado para a fuga", disse, numa conferência de imprensa, o procurador-geral do estado mexicano de Coahuila, onde "El Lazca" foi capturado. O líder dos Zetas tinha sido morto horas atrás pela Marinha mexicana numa aldeia naquele estado do Noroeste.

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