Fuga de informação da WikiLeaks alastra na Net

A WikiLeaks divulgou um ficheiro com todos os telegramas do Departamento de Estado dos EUA, sem apagar o nome de fontes sensíveis. Isto porque há cópias do ficheiro na Internet que qualquer pessoa com alguns conhecimentos e um pouco de trabalho pode ler - porque houve descuidos inacreditáveis com palavras-passe.

A organização de Julian Assange acusa o jornal britânico The Guardian de responsável pela fuga de informação, ao divulgar a senha que protege o ficheiro dos mais de 252 mil telegramas de embaixadas americanas no livro O Segredo Wikileaks (ed. port. Gradiva). O Guardian responde que é "um disparate sugerir que o livro comprometeu a segurança" dos telegramas, mesmo se o jornal divulgou a palavra-passe no livro. "Disseram-nos que era temporária, que expiraria dentro de horas." E mais, "ninguém da WikiLeaks manifestou preocupação quando o livro foi publicado [em Fevereiro] e tiveram sete meses para tirar os ficheiros."

Já o relato da revista alemã Spiegel é mais complexo. Entre outras explicações para o alastrar do Cablegate na rede, remete para a rivalidade que fracturou a WikiLeaks, entre o australiano Assange e o alemão Daniel Domscheit-Berg, que saiu para criar o seu próprio site para fugas de informação, o OpenLeaks, criticando a megalomania do antigo amigo (Nos Bastidores da WikiLeaks, Casa das Letras).

Quando saiu, Domscheit-Berg terá levado - talvez até acidentalmente - uma cópia dos telegramas. Mas havia muitas outras on-line, disponibilizadas pela WikiLeaks, através do protocolo de partilha de ficheiros BitTorrent, que é descentralizado: muitas pessoas têm o ficheiro, talvez até outros governos. Só lhes faltava a password para lê-lo.

A chave começou a ser dada por Domscheit-Berg, em resposta a um acirrar dos ataques de Assange, e foi seguida por intensa especulação no Twitter e fóruns de programadores. Na quarta-feira, diz o Guardian, um utilizador anónimo do Twitter anunciou ter aberto um ficheiro com a password - incrivelmente, a mesma que tinha sido dada ao jornal britânico, quando um procedimento básico de segurança é mudar frequentemente as palavras-chave e não as repetir.

Foi a partir daqui que a WikiLeaks iniciou uma votação no Twitter para saber se os seus simpatizantes quereriam que todo os telegramas do Cablegate fossem divulgados, mesmo os ainda não tratados, para apagar os nomes de informadores que podem sofrer se a sua identidade for revelada. Ontem, várias pessoas anunciaram ter desencriptado o ficheiro BitTorrent e a WikiLeaks pôs um ficheiro BitTorrent no site com o ficheiro integral do Cablegate.

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