Catalunha saiu à rua para protestar contra cortes no estatuto

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"Somos uma Nação, nós decidimos" foi o lema do protesto ALBERT GEA/REUTERS

Divulgação, na sexta-feira e na íntegra, da sentença do Tribunal Constitucional foi considerada como provocação para milhares de catalães

Centenas de milhares de pessoas, um milhão para os organizadores, participaram ontem, em Barcelona, numa manifestação de protesto pelos cortes no estatuto catalão, que rege as relações da Catalunha com o Estado espanhol, em resultado da sentença do Tribunal Constitucional de Espanha. Esta iniciativa foi a resposta das forças sociais e políticas da Catalunha ao Tribunal Constitucional, à excepção do conservador Partido Popular e da plataforma "Ciudadans", e decorreu sob o lema "Somos uma Nação, nós decidimos".

José Montilla, o socialista presidente da Generalitat, o executivo catalão, foi recebido pelos manifestantes aos gritos de "independência!". Montilla abriu o desfile, seguido pelos anteriores presidentes do Governo regional, Pasqual Maragall e o nacionalista Jordi Pujol. Os três eram antecedidos por uma senyera - a bandeira da Catalunha - de 250 metros quadrados. Depois, num pano de 16 metros, empunhado pelos organizadores, a Associação Omnium Cultural, estava inscrito o lema do protesto: "Somos uma Nação, nós decidimos". Uma referência à consideração da Catalunha como nação, que constava do preâmbulo do estatuto, e que os juízes do Tribunal Constitucional decidiram não ter validade jurídica porque, segundo a sentença, "o povo espanhol é o único titular da soberania nacional".

Apesar da grande afluência, o desfile de ontem ficou marcado por divergências. Assim, foi impossível chegar a um acordo sobre a redacção de um manifesto. O que se deve ao clima pré-eleitoral que se vive na Catalunha, que tem eleições regionais no próximo Outono. O "cimento" do desfile acabou por ser a divulgação na íntegra, na passada sexta-feira, 24 horas antes do protesto, do teor da sentença do Tribunal Constitucional de Espanha, cujas principais linhas já tinham sido comunicadas pelo tribunal em 28 de Junho. O que foi interpretado em Barcelona como "uma provocação".

Nesta decisão, para além da não- consideração da Catalunha como nação, mas como comunidade autónoma, foi excluída a organização de um poder judicial autónomo e retirado o adjectivo de preferente à utilização do catalão como língua. Do mesmo modo, foi sublinhado que a relação da Catalunha com o Estado não é de igualdade, "pois o segundo ostenta uma relação de superioridade face às autonomias".

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