Assassino do cineasta Van Gogh condenado a prisão perpétua

O tribunal considerou tratar-se claramente de um acto de terrorismo, o que justifica
o recurso à pena
mais pesada existente na lei holandesa

Mohammed Bouyeri, um muçulmano radical que tem tanto a nacionalidade holandesa como a marroquina, foi ontem condenado por um tribunal dos Países Baixos a prisão perpétua por ter assassinado, em 2 de Novembro do ano passado, o realizador Theo van Gogh, na cidade de Amesterdão, de onde ele próprio é natural.O réu, de 27 anos, confessou o seu delito "em nome de Alá" e disse que voltaria a fazer a mesma coisa, pelo que a justiça considerou tratar-se claramente de um acto de terrorismo.
"O assassínio de Theo van Gogh provocou uma vaga de repulsa", disse o juiz Udo Willem Bentinck, enquanto Bouyeri afirmava ter actuado por convicções religiosas.
Tendo consigo um exemplar do Corão, o assassino declarou que a lei a que obedece o obriga a "cortar a cabeça de quem insulta Alá e o profeta".
Van Gogh, que criticava o islão radical, foi abatido a tiro e esfaqueado em plena luz do dia, quando andava de bibicleta pela cidade de Amesterdão, uma das mais liberais da Europa.
O criminoso cortou-lhe a garganta e espetou-lhe no peito, com uma faca, uma carta a ameaçar a deputada holandesa, de origem somali, Ayaan Hirsi Ali, que escrevera o argumento do controverso filme Submissão, no qual Van Gogh criticou o tratamento concedido às mulheres no mundo islâmico.

"O elemento terrorista foi provado"
O julgamento de ontem em Amesterdão decorreu num edifício fortemente guardado, estando presentes duas dezenas de parentes e amigos de Theo van Gogh, de 47 anos, bisneto da comerciante de arte do mesmo nome, que era irmão do pintor Vincent van Gogh.
A sentença foi a mais dura que era possível para um crime que espantou o país, fez aumentar as tensões étnicas e criou a preocupação de o fundamentalismo islâmico estar a alastrar em território europeu, como o confirmam os recentes atentados de Londres.
O juiz Udo Willem Bentinck disse que a prisão perpétua tem toda a razão de ser para alguém que procurou subverter a democracia holandesa: "O elemento terrorista foi provado."
Bouyeri foi também considerado culpado da tentativa de assassínio de oito polícias e de dois transeuntes, de posse de arma ilegal e de ameaça à deputada liberal Ayaan Hirsi Ali, que fugira da Somália por não ter querido casar com o noivo que o pai para ela escolhera.
A acusação disse que o assassínio foi deliberadamente cometido para espalhar o terror na Holanda, onde logo se verificaram ataques a mesquitas, escolas religiosas e templos cristãos, num país tradicionalmente conhecido pela sua tolerância e onde vivem quase um milhão de muçulmanos.
Nos Países Baixos a prisão perpétua costuma ser aplicada com grande rigor, acabando os condenados os seus dias na cadeia, sem grandes hipóteses de indulto. Mas Mohammed Bouyeri ainda tem agora duas semanas para poder apresentar recurso da sentença, que ouviu vestido de jilaba cinzenta e com a cabeça coberta por um kafieh (lenço) negro e branco.

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