Um mergulho na rua das Portas de Santo Antão

Uma rua de palácios, de clubes nocturnos, centros culturais, comércio. Os edifícios da Rua das Portas de Santo Antão contam estórias que se cruzam com a história de Lisboa e do país. A segunda edição da Lisbon Week organiza, de 21 a 28 de Setembro, dois roteiros históricos por esta artéria e que se estendem até à Rua de S. José. Percurso por uma rua que para além da história mantém o frenesi do quotidiano.

Ermida de São José dos Carpinteiros

A pequena ermida servia o culto da Ordem dos Carpinteiros, devotos de São José. Chegou a acolher a Casa dos Vinte e Quatro - a reunião dos representantes dos ofícios de Lisboa que era ouvida pelo Rei D. João I e assim participava no governo da cidade. Um acto democrático no século XIV. Hoje a Ermida vai sendo recuperada pouco a pouco. Neste momento, o restauro do chão implica que se mexa nos ossos ali sepultados. No fim das obras, serão lá depositados de novo.

Palácio Sousa Leal

Depois de ter sido a sede social dos CTT, o Palácio Sousa Leal é agora a grande casa de cerimónias solenes dos Correios Portugueses. Um Palácio em pleno centro de Lisboa mas que é uma porta para um ambiente totalmente diferente do urbano: no seu interior há um jardim que nos transporta para o ambiente calmo do campo.

Não se passa nesta rua sem que nos tentem vender uma refeição

Na rua em que há sempre movimento, também há momentos de pausa

Igreja de São José

A Ermida de São José dos Carpinteiros serviu durante algum tempo como sede de paróquia para as zonas fora da muralha fernandina, mas no século XVI a população e as construções começaram a crescer para fora de portas. Nessa altura foi necessária a construção de uma igreja maior: a de São José - uma obra nunca acabada e que reúne peças de várias outras igrejas que ruíram com o terramoto de 1755.

Cervejaria Solmar

A marisqueira inaugurada em 1956 nunca parou até hoje. No seu interior, o estilo de decoração dos anos 50 e 60 faz-se notar e o que mais chama a atenção é o grande painel de azulejos com a fauna dos mares. Para além deste viveiro pintado na parede, António e Manuel Paramés, fundadores da casa, tinham um outro no Guincho, mas este com mariscos e peixes de verdade, para que os clientes vissem o que lhes estivesse a ser servido.

Em lugares de comércio tradicional, atrai-se o público com criatividade

Os petiscos não podiam faltar

Ateneu Comercial

Apesar de hoje as salas da antiga casa dos Condes de Povolide estarem vazias, nos últimos 133 anos passaram por elas as animadas festas e actividades culturais do Ateneu Comercial de Lisboa, fundado em 1880. Em insolvência desde o ano passado, com dívidas na ordem dos 300 mil euros, na piscina e no campo de basquete do edifício não se passa agora nada e restam as memórias das aulas de hidro-ginástica, de ginástica, das equipas dos vários desportos, do grupo de campismo e, claro, das festas e bailes de debutantes.

Sociedade de Geografia de Lisboa

Criada pelo Estado com o intuito de dar a conhecer a geografia africana, a Sociedade de Geografia é hoje uma instituição privada, mantida, diz Luís Aires de Barros, seu presidente, por aqueles “que têm a carolice do conhecimento”. O edifício (paredes-meias com o Coliseu) foi modificado para receber esta associação. Hoje, quando Sociedades de Geografia estrageiras visitam a portuguesa, admiram-se por esta ter um edifício tão rico só para si, enquanto elas têm, em geral, apenas um andar.

Numa rua sem supermercados, reina ainda o comércio tradicional

É uma rua com muito passado, mas também é uma rua com presente

Associação Comercial de Lisboa

Nos anos 20, a zona da Rua das Portas de Santo Antão tinha aquilo que havia em qualquer grande cidade ocidental: casinos, clubes de jazz, charleston e fox-trot. Bristol, Majestic ou Ritz são nomes de alguns desses espaços. O conhecido Palace estava instalado no Palácio do Comércio onde funciona hoje a Associação Comercial de Lisboa – Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa.

Igreja São Luís dos Franceses

“Dos franceses” não se refere só à história da pequena igreja do século XVI, mandada construir pela coroa francesa para o culto da comunidade gaulesa em Lisboa. “Dos Franceses” faz ainda hoje sentido: o edifício foi adquirido no século XIX pelo Estado francês, que financiou em 2011 o seu restauro. Lá dentro, é tão fácil encontrar imagens de Santos como as de Reis franceses ou as decorações com Flor de Lis, um símbolo da monarquia francesa.

Para lá dos negócios com décadas, há os que chegaram há pouco e vendem de tudo

Alguns dos edifícios têm arquitectura pombalina que se vê logo à entrada dos prédios, nas escadas estreitas

Casa do Alentejo

Foi casa de família até 1910 quando era apenas Palácio Alverca, morada dos Viscondes de Alverca. Depois disto, sofreu obras e transformou-se no Majestic Club, o primeiro casino lisboeta, mais tarde chamado Monumental. Nos anos 30, começa a funcionar aí o Grémio Alentejano, hoje Casa do Alentejo, associação cultural que adquiriu nos anos 80 o edifício, até então alugado. Nos anos 30 e 40 eram famosos os jantares, convívios e santos populares aí organizados.

O fadista das Portas de Santo Antão

Para lá da história no interior dos edifícios, nos passeios há mais estórias para contar. Ao fim da tarde, a rua continua activa e a prova está nos espectáculos do teatro politeama e do Coliseu dos Recreios, nas esplanadas sempre a receber turistas, nas diversas tascas e no fadista Manuel Borralho, que aos 59 anos, todas as noites se senta nas Portas de Santo Antão, com o seu amplificador, para se fazer ouvir melhor.

A ginjinha é um clássico

Há as grandes esplanadas turísticas, mas também há pequenas tascas

Palácio da Independência

No século XVI, quando a nobreza se quis instalar em Lisboa escolheu, em boa parte, aquela que é hoje a Rua das Portas de Santo Antão - não estava congestionada como o centro da cidade e, sendo considerada arrabalde, rapidamente se tornou nobre. O Palácio Almada é o único das muitas casas nobres desta rua que se situa ainda dentro das muralhas da cidade. Hoje é conhecido como Palácio da Independência por estar associado às reuniões conspiratórias que levaram ao golpe de Estado de 1640.

Igreja de São Domingos

Depois de ter passado o teste do terramoto de 1755, a igreja de São Domingos teve que superar o incêndio de 13 de Agosto de 1959. Sabe-se que começou junto do altar e imagina-se que a causa tenha sido um curto circuito. Na recuperação da igreja do século XIII (que acabou em 1994), a opção foi assumir o desastre que tinha assolado aquele espaço: há pedras esburacadas, paredes sem pinturas e estátuas do altar desfiguradas. O tecto que tinha ruído totalmente, está hoje pintado num degradé de tons terracota que lembra o incêndio: a cor é mais forte no altar, onde começou o fogo, e mais clara à entrada da igreja, menos afectada.

Os petiscos tradicionais consomem-se ao balcão

Há negócios que permanecem: uma loja de ferragens quase passa despercebida

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