Migração
Vestígios de uma viagem por terminar
Parecem objectos vulgares mas são vestígios de histórias que vão ficar por contar: as daqueles que tentam atravessar o Mediterrâneo mas que acabam por não conseguir.
É um retrato de família aparentemente comum: um homem, uma mulher, uma criança. Por trás deles um cenário verdejante pontuado por flores de cores demasiado vibrantes. Os pormenores não são facilmente perceptíveis já que a fotografia está fechada numa bolsa plástica e nela está escrito o número 24. Porquê? É uma prova que a polícia de Palermo, em Itália, tem na sua posse. Pertencia a um homem que morreu a tentar atravessar o Mediterrâneo em direcção à Europa. Esta é uma das imagens que Tony Gentile, fotojornalista da agência Reuters, registou na brigada de homicídios do departamento da Polícia de Palermo. Para além de fotografias de família ou fotografias de passe, as autoridades recolheram relógios, telemóveis, passaportes, notas de euros e de dólares, colares e pulseiras... Todos eles foram encontrados junto dos corpos de cerca de 90 homens, mulheres e crianças que morreram a bordo de três barcos este Verão. São vestígios de viagens que ficaram por terminar e, simultanemente, são um vislumbre de uma tragédia cada vez mais quotidiana: este ano mais de 3500 pessoas morreram nesta travessia. "Tratamos estes casos como homicídios", diz Giovanni Drago, membro da brigada de homicídios da polícia de Palermo. É por isso que a polícia guarda estes bens. Não só para identificar os corpos mas também como potenciais provas para usar em tribunal contra os traficantes.