Cancro

Um hotel não para turistas mas para doentes

Wang tem 42 anos e foi diagnosticada com cancro do colo do útero no início do ano Reuters/Kim Kyung-Hoon
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Wang tem 42 anos e foi diagnosticada com cancro do colo do útero no início do ano Reuters/Kim Kyung-Hoon

Sentada na cama, Wang toma o pequeno-almoço que o marido preparou. Abre uma pequena embalagem branca de onde escorregam vários comprimidos pretos para a palma da mão. Está a 750 quilómetros da sua casa, num quarto de hotel, com uma televisão e uma ventoinha. Tal como a maior parte dos hóspedes, Wang não veio visitar a cidade: está à espera do início do tratamento para combater um cancro.

Na periferia dos melhores hospitais de Pequim, na China, começou a surgir uma rede de edifícios em tijolo, ligados entre si através de corredores estreitos. É a casa temporária de quem vive fora das grandes cidades, sem acesso a bons médicos e cuidados de saúde de qualidade, e tem ainda poucas capacidades financeiras. Estes hotéis estão espalhados pelo país, perto dos grandes hospitais e recebem em média por ano mais de três milhões de pessoas diagnosticadas com cancro e à espera de tratamento.

“Há um desequilíbrio entre as grandes cidades e as pequenas. Os bons médicos não querem trabalhar nas cidades pequenas”, disse Liu, marido de Wang. “Se temos uma doença grave, o melhor a fazer é ir para Pequim”. A sua mulher, Wang, 42 anos, foi diagnosticada com cancro do colo do útero no início do ano. Ambos deixaram o interior da Mongólia para viver num quarto de hotel, pelo qual pagam cerca de 70 yuan - cerca de 10 euros - por noite, metade do preço de uma cama de hospital.

A procura por estes hotéis é cada vez maior: segundo o gerente de um dos hotéis, a maior parte dos hóspedes acaba por ficar alguns meses ou até um ano nos quartos, à espera do tratamento.

Segundo dados oficiais, 44% das famílias vive na pobreza devido aos elevados gastos com problemas de saúde. “A parte mais complicada para nós é o dinheiro. Onde vivemos, as famílias são pobres. Temos de pedir dinheiro emprestado para o tratamento”, disse Pan, que vive há três anos num hotel em Pequim, após a sua mulher, Huang, ter sido diagnosticada com cancro rectal. “Somos agricultores, já gastámos mais de 270 mil yuan - cerca de 36 mil euros - desde 2013”.

 

Wang e o marido Liu deixaram o interior da Mongólia para viver num quarto de hotel, pelo qual pagam cerca de 70 yuan (quase 10 euros) por noite, metade do preço de uma cama de hospital
Wang e o marido Liu deixaram o interior da Mongólia para viver num quarto de hotel, pelo qual pagam cerca de 70 yuan (quase 10 euros) por noite, metade do preço de uma cama de hospital Reuters/Kim Kyung-Hoon
Liu serve o pequeno-almoço à sua mulher, Wang
Liu serve o pequeno-almoço à sua mulher, Wang Reuters/Kim Kyung-Hoon
“Há um desiquilíbrio entre as grandes cidades e as pequenas. Os bons médicos não querem trabalhar nas cidades pequenas”, disse Liu
“Há um desiquilíbrio entre as grandes cidades e as pequenas. Os bons médicos não querem trabalhar nas cidades pequenas”, disse Liu Reuters/Kim Kyung-Hoon
Wang e Liu a caminho do hospital
Wang e Liu a caminho do hospital Reuters/Kim Kyung-Hoon
 Segundo o gerente de um dos hotéis, a maior parte dos hóspedes acaba por ficar alguns meses ou até um ano nos quartos, à espera do tratamento
Segundo o gerente de um dos hotéis, a maior parte dos hóspedes acaba por ficar alguns meses ou até um ano nos quartos, à espera do tratamento Reuters/Kim Kyung-Hoon
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Huang foi diagnosticada com cancro rectal em 2013
Huang foi diagnosticada com cancro rectal em 2013 Reuters/Kim Kyung-Hoon
Huang vive há 3 anos com o marido num quarto de hotel em Pequim
Huang vive há 3 anos com o marido num quarto de hotel em Pequim Reuters/Kim Kyung-Hoon
Segundo dados oficiais, 44% das famílias vive na pobreza devido aos elevados gastos com problemas de saúde
Segundo dados oficiais, 44% das famílias vive na pobreza devido aos elevados gastos com problemas de saúde Reuters/Kim Kyung-Hoon
 “A parte mais complicada para nós é o dinheiro. Onde vivemos, as famílias são pobres. Temos de pedir dinheiro emprestado para o tratamento”, disse Pan, marido de Huang
“A parte mais complicada para nós é o dinheiro. Onde vivemos, as famílias são pobres. Temos de pedir dinheiro emprestado para o tratamento”, disse Pan, marido de Huang Reuters/Kim Kyung-Hoon
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 “Somos agricultores, já gastámos mais de 270 mil yuan (cerca de 36 mil euros) desde 2013”, disse Pan
“Somos agricultores, já gastámos mais de 270 mil yuan (cerca de 36 mil euros) desde 2013”, disse Pan Reuters/Kim Kyung-Hoon
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Pan faz as malas e prepara-se para deixar o quarto de hotel
Pan faz as malas e prepara-se para deixar o quarto de hotel Reuters/Kim Kyung-Hoon
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Estes hotéis são a casa temporária de quem vive fora das grandes cidades, sem acesso a bons médicos e cuidados de saúde de qualidade, e tem ainda poucas capacidades financeiras
Estes hotéis são a casa temporária de quem vive fora das grandes cidades, sem acesso a bons médicos e cuidados de saúde de qualidade, e tem ainda poucas capacidades financeiras Reuters/Kim Kyung-Hoon