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Olhai os muros da cidade

Vivemos em cidades muradas, divididas, separadas. Vivemos em cidades cheias de fronteiras. Muitas vezes não reparamos nelas. Paulo Pimenta, fotojornalista do PÚBLICO, leva-nos a reparar.

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O Paulo disse: “Anda ver.” Sentámo-nos em frente ao computador e, no ecrã, surgiu a cidade com que nos cruzamos todos os dias, mas que não vemos da mesma forma. A cidade que não vemos de todo. “Olha para isto. Podia ser Gaza, podia ser uma zona de guerra, olha para estes muros”, continuava o Paulo. Os muros que atravessam as cidades, que nos separam, que cortam horizontes e a vista do que está ali, já à mão de semear, do outro lado. Os muros que fazem com que a horta viçosa que podia ser um prelúdio de uma paisagem bucólica, estendendo-se até ao mar, seja apenas uma réstia de verde, irremediavelmente afastada do azul aquático, pela parede impiedosa de tijolo. Os muros que nos deixam presos do lado de dentro, mas também do lado de fora. Ao longo dos quais caminhamos, tantas vezes de cabeça baixa, sem pensar como seria fazer aquele percurso se a vista fosse mais larga e não cortada pela pedra ou o betão armado. “Podia ser Gaza, podia ser uma zona de guerra”, dizia o Paulo, e aquele muro cumprido, ao longo do qual corre um caminho, usado não se sabe por quem, faz-me fechar os olhos por um segundo e imaginar que, de facto, ele está ali para proibir a passagem, como um símbolo palpável de repressão. Os muros, presentes em todo o lado, às vezes são apenas isso. Muros, suportes, separadores. Outras vezes, agigantam-se, dominam a paisagem, transformam-se no seu elemento mais notável. Demasiado presentes para os ignorarmos. “Anda ver”, disse o Paulo. E, a partir desse momento, a cidade tornou-se outra. Patrícia Carvalho